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Auditor de pré-sal trabalha para Petrobras
Escritório que define valor do barril de petróleo da União tem contratos com estatal, a quem interessa preço baixo
União venderá 5 bilhões de barris à Petrobras, que serão pagos com títulos da dívida pública para capitalização
RUBENS VALENTE
DE BRASÍLIA
A empresa contratada pelo
governo para estabelecer um
preço para o barril de petróleo da área do pré-sal pertencente à União mantém negócios com a Petrobras -a parte compradora no negócio.
O vínculo representa um
potencial conflito de interesses, já que à Petrobras, formada por capital privado e
público, interessa um preço
mais baixo.
A União venderá à Petrobras 5 bilhões de barris. A petroleira pagará com títulos da
dívida pública, em seguida
usados para a sua capitalização, passo essencial no projeto do pré-sal.
O presidente Lula autorizou em junho a transação.
Qualquer alteração no valor
tem enorme repercussão na
cifra do negócio. Dez centavos de dólar por barril representam US$ 500 milhões.
Embora não tenham sido
divulgados números oficiais,
a Petrobras tem falado em até
US$ 7 por barril, enquanto a
ANP (Agência Nacional do
Petróleo) citou US$ 8 -diferença de US$ 5 bilhões.
A Petrobras contratou a
DeGolyer & MacNaughton
para indicar o preço, e a ANP,
pelo lado do governo federal,
contratou a GCA (Gaffney,
Cline & Associates).
A ligação da GCA com a Petrobras foi exposta em uma
apresentação feita pelo próprio presidente da petrolífera, José Sergio Gabrielli, em
audiência realizada na Câmara no dia 13 de outubro
passado -oito meses antes
da contratação da GCA pela
ANP.
O documento lista cinco
empresas como "principais
certificadoras internacionais", entre as quais a GCA,
de Houston (EUA). O documento descreveu a empresa:
"Certificadora anterior da Petrobras, desde 2008 controlada pela Baker Hughes".
Levantamento feito pela
Folha aponta que a Baker fechou com a Petrobras, desde
2005, R$ 2,28 bilhões em 49
contratos de prestação de
serviços, tais como implantação de sistemas de perfuração de poços. O último contrato, de R$ 2,3 milhões, é
posterior à contratação da
GCA pela ANP.
Especialistas ouvidos pela
Folha acreditam não haver
lei específica a vedar tal conflito de posições, mas citaram, por associação, instruções da CVM (Comissão de
Valores Mobiliários) que vedam ao auditor manter ações
de companhia que ele precisa auditar.
A ANP lançou concorrência internacional, na qual a
GCA foi a única a oferecer
proposta. Mas a licitação foi
declarada "fracassada" após
recurso apresentado por
uma concorrente. A GCA utilizou dados de sua subsidiária brasileira.
A ANP não convocou nova
concorrência. Fez, em junho,
a contratação direta da GCA,
por dispensa de licitação.
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