São Paulo, quarta-feira, 21 de setembro de 2011

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ANÁLISE REMESSAS

Com crise mundial, empresas focam o mercado doméstico

Brasileiras realocam portfólio de investimentos para reforçar o caixa local


O AJUSTE EM CURSO, DE UM CERTO RECUO, TRAZENDO RECURSOS DE VOLTA, É CONJUNTURAL


ANTONIO CORRÊA DE LACERDA
ESPECIAL PARA A FOLHA

O volume incomum de recursos que as empresas multinacionais brasileiras trouxeram das filiais no exterior nos primeiros setes meses deste ano chama a atenção.
Já chegou a US$ 21,7 bilhões, 76% a mais do que os US$ 12,3 bilhões do mesmo período do ano passado e quase o dobro dos US$ 11,2 bilhões que foram investidos no exterior no acumulado deste ano.
A crise que afeta grande parte do mundo desenvolvido tem muito a ver com isso. As economias norte-americana, europeia e japonesa apresentam um quadro de estagnação, sendo que não se descarta, em alguns casos, a probabilidade de recessão.
Isso significa que os projetos de expansão das empresas brasileiras nesses mercados estão sendo revisados -uma vez que a demanda, no melhor dos casos, crescerá muito pouco.
Em contrapartida, o mercado brasileiro tem apresentado bom desempenho, e, apesar de desaquecimento do ritmo de expansão, comparativamente ao ano que passou, há boas perspectivas de médio e longo prazos.
As empresas já perceberam que, para não perder participação nas vendas, terão de realizar novos investimentos. Portanto, há uma clara realocação do portfólio de investimentos e as companhias brasileiras estão reforçando o caixa local para fazer frente às suas necessidades de financiamento.

INDUSTRIALIZAÇÃO
De um país absorvedor de investimento direto estrangeiro, o que foi fundamental para consolidar a industrialização ao longo da história, o Brasil tornou-se um dos principais países investidores no exterior. As empresas brasileiras tiveram a percepção correta de que é preciso fazer parte das grandes cadeias produtivas globais, até mesmo para não se tornarem alvos fáceis de aquisições por parte de seus concorrentes.
O acesso aos mercados de fora, a superação de barreiras tarifárias e não tarifárias, a busca de um "hedge" natural via geração de receitas em dólares, dentre outras, também são motivações da internacionalização.
Esse é um movimento estrutural, que não deve mudar, no longo prazo. O ajuste em curso, de um certo recuo, trazendo recursos de volta, é, portanto, conjuntural.
O bom momento vivido pela economia brasileira e as suas perspectivas favoráveis também explicam por que vamos receber neste ano o recorde de US$ 70 bilhões de ingressos de investimentos diretos estrangeiros. Na adversa conjuntura internacional, o mercado doméstico brasileiro tem se tornado foco das empresas interessadas em manter e expandir seus negócios.
Esse é o maior ativo com o qual a economia brasileira pode contar em tempos de "vacas magras". É preciso aproveitar a maré.

ANTONIO CORRÊA DE LACERDA é economista, professor da PUC-SP, doutor pelo IE/Unicamp e autor, entre outros livros, de "Desnacionalização: Mitos, Riscos e Desafios".


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