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ENTREVISTA SOFIA ESTEVES
Jovem quer se sentir valorizado e receber retornos constantes
DIRETORA DE RH DIZ QUE AMBIENTE DE TRABALHO É PRIORIDADE PARA "GERAÇÃO Y"
DE SÃO PAULO
Sofia Esteves, 49, fundadora e presidente do Grupo
DMRH, de recursos humanos, diz que salário está em
sétimo lugar na lista de prioridades dos jovens no mercado de trabalho hoje.
Os aspectos mais valorizados pela chamada "geração
Y" -dos nascidos de 1978 ou
1980 (não há consenso entre
pesquisadores) a 2000- são
bom ambiente de trabalho,
possibilidade de desenvolvimento profissional e qualidade de vida.
"A empresa tem de investir
em tudo isso para reter talentos, além de ter uma boa comunicação com os jovens",
diz Esteves, uma das mais
prestigiadas no mercado.
A seguir, trechos da entrevista exclusiva à Folha:
(CAROLINA MATOS)
Encontro de gerações
Os gestores mais velhos, de
50 ou 60 anos, têm dificuldade de entender os funcionários mais jovens, de 20 ou 30
anos. E, muitas vezes, rotulam esses profissionais como
a geração "I": de imaturos,
insubordinados e infiéis.
Sim, eles são mais imaturos,
por causa da superproteção
dos pais e também porque
chegam mais tarde ao mercado de trabalho. Mas eu costumo dizer que existem mais
"is" nessa lista.
Essa nova geração é, por
exemplo, mais inteligente
que as anteriores no que diz
respeito à tecnologia, à inovação. E também em relação
à liberdade que os jovens se
dão de falar o que pensam.
Nós, que pertencemos às gerações anteriores, aprendemos a não reclamar quando
estamos infelizes.
O comportamento menos
formal de hoje é visto pelos
chefes mais velhos como desrespeitoso. Mas é tudo questão de comunicação.
Os jovens tratam os outros
como iguais. Foram educados na escola a chamar a professora de "tia". E essa liberdade acaba sendo trazida para o ambiente de trabalho.
Muitas vezes, o conteúdo do
que o jovem critica está correto; o problema é a forma.
Quando o gestor percebe isso, não estamos mais falando
de conflito, mas, sim, de encontro de gerações.
Reter talentos
Para reter talentos, além de
aprender a se comunicar melhor com os jovens, as empresas têm de investir em aspectos importantes para esses
funcionários.
A nossa pesquisa Empresa
dos Sonhos dos Jovens de
2010, feita com 35 mil universitários brasileiros, mostra
que, pela primeira vez em nove anos, o salário apareceu
em sétimo lugar entre as
prioridades da "geração Y"
no mercado.
A primeira razão apontada
para escolher determinada
empresa foi o bom ambiente
de trabalho.
Depois, veio a possibilidade
de desenvolvimento profissional. E, em seguida, apareceu qualidade de vida.
Em 2008, salários e benefícios vinham em primeiro lugar na preferência dessas
pessoas. E bom ambiente de
trabalho não era um item que
aparecia entre os cinco motivos mais citados.
Isso representa uma grande
mudança de prioridades.
Mais valor
Com os principais aspectos
atendidos, 30% dos entrevistados disseram que permaneceriam na mesma empresa
por mais de 20 anos.
Cinco anos atrás, esses 30%
diziam que o tempo adequado para ficar no emprego seria dois anos no máximo.
As empresas têm de investir
em treinamento e salários
adequados para que o jovem
se sinta valorizado. E dar retorno sobre o trabalho que
estão realizando e os motivos
desta ou daquela decisão.
O raciocínio é simples: faça
pelo outro o que você gostaria que fizessem por você.
Ponderação
É preciso que o gestor delegue responsabilidades aos
jovens e os ensine a serem
mais ponderados, a refletir.
Aos poucos, a "geração Y"
vai percebendo que problemas existem em qualquer
empresa e que não adianta ficar pulando de galho em galho. A solução é enfrentar os
problemas e se apresentar
como parte da solução.
Os jovens são dispostos a
aprender, ligados em novidades e se dedicam muito ao
trabalho. Basta que eles se
sintam valorizados.
Escola
A renovação e o treinamento
dos gestores para lidar com
os jovens também têm facilitado o diálogo.
O maior problema está na escola, que, de maneira geral,
ensina o aluno a ter uma posição passiva e não está preocupada em aproximá-lo do
mercado de trabalho.
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