São Paulo, domingo, 21 de novembro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Inovação natural

Empresas buscam inspiração na natureza para desenvolver produtos e processos mais eficientes

MARIANA BARBOSA
DE SÃO PAULO

Depois de 3,8 bilhões de anos de "pesquisa e desenvolvimento", as espécies sobreviventes da natureza talvez tenham algo a ensinar.
"As criaturas que sobreviveram enfrentaram enormes desafios para se alimentar e se abrigar e, para isso, desenvolveram estratégias altamente eficientes", diz a bióloga americana Janine Benyus, que caiu nas graças do mundo corporativo depois de publicar, em 1997, o livro "Biomimética - Inovação Inspirada na Natureza".
"De uma hora para outra, comecei a receber ligações da GE, da Nike, da Kraft, da GM", conta ela, que veio ao Brasil no fim de outubro para iniciar uma consultoria para a Natura, em parceria com a agência de design Tátil.
Biomimética, ou imitação da vida, foi o termo dado por Benyus para batizar essa nova disciplina que estuda o comportamento de ecossistemas e organismos naturais em busca de ideias para solucionar problemas humanos.
"Nós gastamos muita energia e geramos muito resíduo tóxico para produzir fibras têxteis altamente resistentes", diz Benyus.
"Acho que temos algo a aprender com as aranhas, que produzem um material que é ainda mais resistente e elástico consumindo apenas insetos e sem precisar extrair nenhuma gota de petróleo."
Para estimular a troca de informações entre pesquisadores, Benyus criou o portal asknature.org (Pergunte à Natureza).
Ao tornar públicos os processos naturais, o portal ajuda a evitar que sejam patenteados. "Há que patentear as aplicações, não os processos naturais", diz a bióloga.
Em sua consultoria empresarial, Benyus conta com um time de biólogos. A cada nova demanda tecnológica, eles pesquisam o comportamento "da ameba à zebra" até encontrar a solução mais eficiente.
A inovação inspirada na natureza, segundo ela, pode contribuir para a conservação do planeta ao ajudar a criar produtos e processos de fabricação mais eficientes.
O portal reúne produtos já em comercialização, como uma tinta autolimpante inspirada na superfície hidrófoba da flor-de-lótus.
E em desenvolvimento, como uma turbina de energia eólica vertical que promete gerar dez vezes mais energia do que as turbinas convencionais ocupando uma área muito menor.
Inspirada no nado de cardumes de peixes, a turbina está sendo desenvolvida pelo Instituto de Tecnologia da Califórnia e recebeu, há dois meses, um prêmio de inovação de US$ 500 mil da fundação MacArthur.
Grande entusiasta da biomimética, o bilionário Vinod Khosla investiu na ideia de um cientista (Brent Contstantz) que, inspirado no processo de formação de corais, desenvolveu um cimento que não só não emite CO2 em sua fabricação como sequestra CO2. A Calera, também na Califórnia, já requereu mais de 170 patentes e está perto de atingir escala comercial.


Texto Anterior: Raio-X: Sofia Esteves
Próximo Texto: Frase
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.