São Paulo, terça-feira, 22 de junho de 2010

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Acordo blinda Oi contra estrangeiros

Acerto entre controladores estabelece que, se algum acionista quiser vender participação, os demais terão preferência

Hipótese de haver oferta hostil de compra do controle acionário da Oi é considerada impossível por analistas

ELVIRA LOBATO
DO RIO

A Oi está blindada por um acordo de acionistas contra ofensivas de grupos estrangeiros para adquirir seu controle. O acerto, registrado na CVM (Comissão de Valores Mobiliários), estabelece que, se algum dos acionistas quiser vender a participação na empresa, os demais têm preferência de compra.
Há algumas semanas, circulam notícias de que a Portugal Telecom estaria interessada em ser acionista controladora da Oi.
A hipótese de haver uma oferta hostil de compra do controle acionário da Oi -como a Telefónica está fazendo com a Portugal Telecom, em relação às ações da Vivo- é considerada impossível pelos especialistas, em razão do acordo de acionistas da Telemar Participações, holding controladora do grupo Oi.
Ele foi firmado em abril de 2008, simultaneamente à negociação da compra do controle da Brasil Telecom.
O documento foi subscrito pela BNDES Participações (empresa do BNDES, pertencente à União, com 16,89%) e pelos fundos de pensão estatais Petros (Petrobras, com 10%), Previ (Banco do Brasil, com 12,95%) e Funcef (Caixa Econômica Federal, 10%).
Também foi subscrito pelos sócios privados, que têm 50,1% das ações: AG Telecom, do grupo Andrade Gutierrez, L.F. Tel (grupo La Fonte) e pelo fundo Atlântico, dos empregados da Oi.
Mesmo que o governo queira vender suas ações em leilão público aberto, esbarraria no direito de preferência dos demais acionistas.
Há ainda uma segunda blindagem: a Telemar Participações não tem ações negociadas na Bolsa, o que impede que exista uma oferta hostil de compra, à revelia dos acionistas controladores.

HISTÓRICO
Ofertas hostis de compra de ações já aconteceram no Brasil. Em 2006, a Sadia propôs comprar a Perdigão, e a oferta foi rechaçada. Em março deste ano, a Telefónica fez oferta hostil de compra pela GVT e também perdeu. Nesses casos, os alvos eram empresas com ações em Bolsa.
O acordo da Oi diz que ""as partes não venderão, cederão, transferirão, gratuita ou onerosamente, direta ou indiretamente" suas ações sem que os demais sejam notificados e abram mão do direito de preferência.
Se um acionista quiser vender sua parte, terá de informar aos demais, por escrito, valor da oferta recebida e condições de pagamento. Os outros terão 30 dias para exercer o direito de compra.
A venda para um terceiro só é admitida se nenhum acionista quiser exercer seu direito de preferência. Ou seja, a entrada de um novo sócio tem que ser negociada.

LEILÃO
No dia 17, a BNDESPar vendeu 14,47% da Telemar Participações para Funcef e Petros. O leilão estava previsto desde abril de 2008. Os dois fundos de pensão tinham pouco mais de 2% da empresa e negociaram elevar sua fatia para 10%, cada um.
O leilão só foi possível porque os demais acionistas abriram mão do direito de preferência de compra em favor da Petros e da Funcef, os únicos candidatos no leilão.
Se há tanto interesse pelo controle da Telemar, por que não apareceram outros candidatos no leilão? A resposta está no acordo de acionistas que blinda a companhia.


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