São Paulo, sábado, 23 de abril de 2011

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CRÍTICA ECONOMIA

Coleção de artigos sugere como planejar esta década

Obra faz alerta de que faltam planos mais longos para o desenvolvimento do país


LIVRO ABORDA PENSAMENTOS E IDEIAS DIVERSOS DE QUEM ESTÁ HOJE OCUPANDO O PODER


VINICIUS TORRES FREIRE
COLUNISTA DA FOLHA

Falta mais de uma década para o bicentenário da Independência. Tempo para quase três governos presidenciais. Parece muito tempo. Parece, apenas.
A leitura de "2022: Propostas para um Brasil Melhor no Ano do Bicentenário" deixa a impressão de estarmos muito atrasados, qualquer que seja o horizonte temporal de quem esteja interessado em fazer do Brasil um lugar mais civilizado e bem de vida.
"2022" é uma coleção de 17 artigos de análises e sugestões de políticas públicas. O mote do livro, óbvio, é imaginar como fazer bom uso desta década. Isto é, fazer que a economia cresça mais, com mais igualdade, democracia e ambiente saudável.
Mas "2022" é um marco simbólico. No fundo, a obra é um alerta de urgência: planos e objetivos de médio e longo prazos estão ausentes do debate público.
O livro foi organizado pelos economistas Fabio Giambiagi (ora no BNDES) e Claudio Porto, presidente da consultoria Macroplan. Como tantas outras obras do gênero organizadas por Giambiagi, há um claro partido político-intelectual na reunião de autores e ideias.
Os colaboradores de "2022" poderiam ser chamados de "liberais", "ortodoxos", "tucanos" etc. Seja lá qual for o apelido ou insulto, trata-se de gente capaz, que pensa de modo diferente de quem está no poder.
"2022" nos traz à lembrança a necessidade de pensar temas esquecidos, como políticas de aumento de eficiência da economia, subsídios, planos fiscais e metas de redução da inflação e juros.
Giambiagi e Fernando Honorato Barbosa indicam, por exemplo, um caminho suave para que o Brasil reduza sua dívida de 40% do PIB para 10% em 2022. O gasto público cresceria pouco menos que o PIB, o salário mínimo teria reajuste real (mas menor).
O Estado não seria amputado de seu poder de fazer políticas. Pelo contrário. De resto, cairiam a inflação e o pagamento de juros da dívida pública, que transfere anualmente 5% ou 6% do PIB para uma minoria de instituições financeiras, empresas e famílias capitalizados.
Ilan Goldfajn e Marcelo Muinhos sugerem uma redução também gradual da meta de inflação, entre outras melhoras no regime de metas. Redução gradualíssima, aliás. Seria outro progresso em termos de taxas de juros e eficiência geral.
O artigo de Fernando Veloso, por exemplo, analisa a evolução e os empecilhos ao crescimento da Produtividade Total de Fatores (PTF), "medida da eficiência agregada da economia" (uso de tecnologia e emprego ótimo de capital e trabalho).
Mais interessante que a sempre polêmica medida da PTF é Veloso ressaltar a importância de um azeitamento dos mecanismos elementares de uma economia de mercado no Brasil.
Isto é, reduzir os empecilhos à adoção de inovações e tornar menos custosa e burocrática a "realocação dos fatores de produção" (de firmas ineficientes para as mais eficientes).
Parece elementar. Mas "fazer negócios", pagar impostos, abrir e fechar empresas no país é um inferno, um problema "invisível", que emperra a economia.

2022: PROPOSTAS PARA UM BRASIL MELHOR NO ANO DO BICENTENÁRIO

AUTOR Fabio Giambiagi e Claudio Porto
EDITORA Campus
QUANTO R$ 79,90 (312 págs.)
AVALIAÇÃO Bom


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