São Paulo, domingo, 23 de maio de 2010

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ÁFRICA EMERGENTE

Milagre angolano

Impulsionado pela exportação de petróleo , país africano cresce 13% ao ano em média desde 2002 e atrai investimentos do Brasil e da China

AGNALDO BRITO
ENVIADO ESPECIAL A ANGOLA

Angola derramou sangue, agora derrama suor.
Oito anos depois do fim da guerra civil entre o MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola) e a Unita (União Nacional para a Independência Total de Angola), a ex-colônia portuguesa converteu-se num fenômeno mundial de expansão econômica na África subsaariana.
Tamanha força tem origem no petróleo, maior riqueza do país e produto que sustenta mais de 50% do PIB. Das exportações, o petróleo é dono de 90% das divisas recebidas por Angola. O restante sai dos diamantes.
Sétima economia da África, terceira força da zona subsaariana -atrás da África do Sul e da Nigéria-, Angola registra média de crescimento sem par em todo o mundo ao longo dos anos 2000.
Após a deposição das armas no acordo de cessar-fogo assinado em 2002 (só possível depois da morte de Jonas Savimbi, líder da Unita), Angola registra crescimento médio de 13% ao ano. O país, de onde se avista o deslumbrante pôr do sol atrás do Atlântico, vive tempos de pressa, de urgência.
"O país foi a economia que mais cresceu no mundo no pós-Guerra. Em termos médios, cresce mais do que a China", diz Justino Feltro da Costa Pinto de Andrade, diretor da Faculdade de Economia e Gestão da Universidade Católica de Angola.
A dependência excessiva do petróleo, da qual tenta se desvencilhar, fez com que a economia caísse 0,4% em 2009, segundo o FMI. Mas o país está de volta e promete retomar o "milagre angolano" já neste ano, ao projetar expansão de 8%.
Por todos os cantos de Luanda, a caótica capital, máquinas pesadas rasgam ruas e vielas, gruas rodopiam no céu a suspender aço e cimento para os edifícios.
A velha capital, construída pelos portugueses durante quatro séculos de dominação colonial, vai se tornando escombro da história.
Com uma nova Constituição, aprovada pela Assembleia Nacional em fevereiro, Angola ratificou a opção pela economia de mercado e busca agora atrair novos capitais para sustentar uma taxa de investimento de 30% do PIB.
"Angola fez a transição de um regime socialista para um regime de economia de mercado, transição rara no continente africano", afirma Marcelo Nuno Duarte Rebelo de Sousa, estudioso da nova Constituição angolana.
O capital brasileiro cruzou o Atlântico em busca das novas oportunidades geradas pela reconstrução do país.
Mas a disputa por uma fatia desse crescimento tem se acirrado, sobretudo diante do apetite dos chineses, dispostos a bancar bilhões de dólares em infraestrutura em troca de petróleo.
Sem o poder financeiro dos chineses, o Brasil aposta em outras estratégias para manter-se em posição relevante tanto na política como na economia angolana.
"Jamais teremos o poder econômico dos chineses. Mas o Brasil foi o primeiro país a reconhecer Angola como nação independente, em 1975. Somos também uma ex-colônia de Portugal e falamos a mesma língua. Isso nos aproxima muito", diz Afonso Cardoso, embaixador brasileiro em Angola.


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