São Paulo, sexta-feira, 23 de julho de 2010

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Bovespa é a 2ª pior entre emergentes

Saldo negativo entre saída e entrada de recursos de investidores estrangeiros chega a US$ 1,2 bilhão em 2010

Desaceleração da China afeta Brasil porque 40% da Bovespa depende de commodities vendidas para gigante asiático


ÉRICA FRAGA
DE SÃO PAULO

A percepção de que o destino da economia brasileira está cada vez mais atrelado aos rumos da China é referendada pelo desempenho dos mercados acionários dos dois países neste ano.
Em termos de fluxo líquido (que contabiliza entradas menos saídas) de recursos de investidores estrangeiros em Bolsas de Valores, os dois países estão no vermelho.
Entre as nações emergentes, o fluxo negativo de investimentos estrangeiros para o mercado acionário brasileiro entre o início do ano e meados deste mês só perdia em magnitude para o chinês: saídas líquidas de US$ 1,16 bilhão no primeiro caso e de US$ 2,7 bilhões no segundo, de acordo com dados contabilizados pelo JPMorgan.
A história em termos de desempenho das Bolsas é parecida. Apesar de forte recuperação nos últimos dias, o Ibovespa contabilizava ontem durante o dia queda (em dólar) de 5,2% no ano.
Entre os outros grandes emergentes, destaque para a China, que recuava 21,7%.
"Na percepção dos investidores, o Brasil está muito vinculado à China", diz Emy Shayo, estrategista de renda variável do JPMorgan.

CHINA PREOCUPA
Dados recentes mostraram um ritmo mais forte de desaceleração da China do que o esperado pelo mercado.
O governo chinês adotou medidas para mudar o balanço do crescimento do país, muito alavancado em investimentos (há indicações de uma bolha especulativa no setor imobiliário, por exemplo), dando um peso maior ao consumo das famílias.
Mas existe um temor de que, nesse reajuste de forças, a economia do gigante asiático se desacelere mais do que o esperado. Isso explica em boa parte o desempenho negativo da Bolsa chinesa.
Crescimento chinês menos forte do que o previsto significaria menor demanda por commodities brasileiras.

COMMODITIES
Como o peso das empresas que produzem commodities no Ibovespa é muito grande (entre 40% e 50% do índice), o humor do investidor estrangeiro com o mercado acionário brasileiro não tem sido dos melhores neste ano.
"O desempenho da Bovespa é afetado pelo aumento da aversão a risco, particularmente com preocupações em relação ao ritmo de desaceleração da China", afirma Carlos Constantini, estrategista-chefe da Itaú Corretora.
Alexandre Maia, economista-chefe da GAP Asset Management, chama a atenção para o fato de que muitas ações de empresas cujo desempenho é mais atrelado à demanda doméstica brasileira têm apresentado valorização no ano.
Ações do setor de consumo representadas no Ibovespa sobem 11,1% neste ano, ante quedas de 5,4% e 5% dos setores siderúrgico e agropecuário, respectivamente.
A mesma lógica se aplica a emergentes em cujas Bolsas de Valores as commodities não têm um peso tão alto como no Brasil.
Tailândia e Turquia, cujos mercados acionários apresentam altas de 17,4% e 11,4% no ano, são exemplos.
O saldo negativo de investimentos estrangeiros para o mercado acionário brasileiro tem sido mais do que compensado por outros fluxos de capital para o país.
Atraídos pelas altas de juros brasileiras, os fluxos de investimentos de fundos estrangeiros para renda fixa no Brasil estavam positivos em US$ 2,5 bilhões neste ano até meados de julho, de acordo com dados da consultoria EPFR.


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