São Paulo, sábado, 23 de julho de 2011

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Sob pressão, Petrobras freia investimento

Preocupado com aquecimento da economia, Mantega sai vitorioso, e novo plano prevê desaceleração nos gastos

Ajuste fiscal e impacto dos investimentos da estatal na inflação também estavam na mira do governo

PEDRO SOARES
DO RIO

Previsto para o primeiro trimestre e depois de três adiamentos, o novo plano de negócios da Petrobras (2011-2015) foi aprovado ontem por seu Conselho de Administração e estabelece investimentos de US$ 224,7 bilhões.
Trata-se de aumento de apenas 0,3% em relação ao programa atual -US$ 224 bilhões até 2014- e marca o fim de um período de aceleração de investimentos da estatal que vigorou desde a abertura do mercado de petróleo, no fim dos anos 1990.
A demora em aprovar o plano decorreu da discordância entre o governo e a direção da estatal, que pretendia ampliar investimentos e turbinar a exploração do pré-sal.
Da disputa saiu vitorioso o "porta-voz" do Executivo nas negociações, o ministro Guido Mantega (Fazenda), presidente do conselho da estatal.
A ordem do governo era colocar o pé no freio por três motivos: não estimular muito a já aquecida economia com a enorme demanda gerada pelas encomendas da Petrobras, ajudar no superavit primário (e no ajuste fiscal) e preocupação com o impacto de reajustes para a gasolina e o diesel na inflação.

COMBUSTÍVEIS
Usado como premissas nas primeiras versões do plano para projetar um faturamento crescente da estatal e sua consequente maior capacidade de investimento, o aumento do diesel e da gasolina representou o principal ponto de atrito e foi abortado por conta da preocupação do governo com a inflação.
Os dois combustíveis respondem por 60% da receita da Petrobras.
"Para ampliar investimentos, a Petrobras precisa aumentar a receita e depende de elevar o preço dos combustíveis para isso. Como o governo não autorizou o reajuste, ela não pode apresentar um plano de negócios maior. Isso é claramente resultado da ingerência do governo", diz Rafael Schechtman diretor da consultoria CBIE.
Nas duas versões do plano rejeitadas, havia a previsão de alta dos combustíveis. Inicialmente, a estatal queria investir cerca de US$ 250 bilhões até 2015. Mas teve de cortar projetos no valor de US$ 10,8 bilhões para atender a pressão do governo.
No novo plano, a estatal ampliou o peso dos investimentos em exploração e produção de petróleo (de 53% para 57% do total) e diminuiu o ritmo de projetos de novas refinarias no Nordeste -que serão analisados "a partir de metas de redução de custos", segundo a estatal.
Também houve aumento na previsão para o pré-sal -de US$ 33 bilhões no plano anterior para US$ 53 bilhões-, que responderá por 40% da produção de óleo em 2020 (4,9 milhões de barris, ante 2,1 milhões de 2011).
Para Osmar Camilo, analista da corretora Socopa, a "interferência política" nas discussões sobre o plano já está no "preço das ações", que tiveram fraco desempenho nos últimos meses. Ele crê num potencial de recuperação do valor de mercado.


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