São Paulo, quinta-feira, 23 de setembro de 2010 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
Baixa renda é alvo de professor de Harvard Acadêmico cria fundo para aplicar em empresas que atendam classes da base da pirâmide na América Latina Ignia tem US$ 102 mi sob gestão vindos de bancos e agências de desenvolvimento e quer se instalar no Brasil
CAROLINA MATOS DE SÃO PAULO Michael Chu, chinês de nascimento, criado no Uruguai e professor da Escola de Negócios de Harvard (EUA), tem como foco de estudos os empreendimentos voltados à "base da pirâmide". São iniciativas privadas -e rentáveis- que atendam populações de baixa renda. E o interesse não é apenas acadêmico. Aos 62 anos, Chu, que fez carreira internacional como executivo do setor financeiro, é cofundador e gestor de um fundo, o Ignia, que aplica em companhias desse segmento na América Latina. O fundo fechado, sediado no México, tem sob gestão US$ 102 milhões de bancos e agências de desenvolvimento, investidores institucionais e particulares, incluindo George Soros. Existem hoje seis investimentos do Ignia no México. E a intenção é atuar mais no mercado latino-americano -a começar pelo Brasil. A seguir, trechos da entrevista exclusiva à Folha. Educação Um dos nossos interesses no Brasil é a área de educação para a base da pirâmide (classes C-, D e E). Mais do que faixas salariais, o que agrupa essa grande fatia da população -de 75% a 80% na América Latina- é o fato de ela estar mal ou pessimamente servida de itens básicos, como saúde, moradia, saneamento e educação. Firmamos um acordo com a Axial Gestão de Recursos para entrar no país. A ideia inicial é criar um negócio privado que ajude a suprir a carência por ensino em comunidades como as favelas cariocas. Seria algo complementar ao serviço público, e não substituto dele. O fato de existir um serviço público e gratuito não significa que as pessoas estejam bem servidas. E isso se aplica em diversas áreas por toda a América Latina. No México, por exemplo, existem farmácias que oferecem atendimento médico particular por cerca de US$ 2. E, mensalmente, 3,5 milhões de mexicanos preferem pagar esse valor a usufruir do serviço público gratuito, que custaria horas de espera. Tempo é dinheiro também para quem está na base da pirâmide, que não pode comprometer um dia de trabalho, ou parte dele, esperando. Ajustar o preço E tudo é uma questão de encontrar o preço certo para o produto. A pergunta é: qual o valor a ser cobrado para que o público -por exemplo, metade dos moradores das favelas do Rio- tenha acesso à escola particular? E a partir desse valor é que se avalia o que é possível construir. Na Índia -que tem renda per capita menor do que a do Brasil-, existem agora escolas particulares nas "favelas" em que a base da pirâmide paga, em média, US$ 8 por mês. Assim, em algumas dessas comunidades, de 65% a 75% das crianças frequentam escola particular. Desafios As empresas precisam perceber que, para esse público, preço baixo não é necessariamente o mais importante. O que conta é o gasto ser possível e valer a pena. O exemplo do celular pré-pago é emblemático. O minuto de conversa adquirido dessa forma é muito mais caro que o do pós-pago. Mesmo assim, é a escolha da maioria da população de baixa renda. A base da pirâmide já paga habitualmente um "prêmio", um preço maior. O que importa é que ela tenha como fazer o gasto e que o serviço seja bem executado. Todos os serviços básicos Acredito que todos os serviços básicos -como saúde, educação, moradia, telecomunicações e fornecimento de água e energia- têm bom potencial para negócio no Brasil e em outros países latino-americanos. Isso porque ainda são insatisfatórios, apesar dos progressos, e o poder de consumo da população de baixa renda tem aumentado. Na América Latina, apenas de 15% a 20% dos habitantes (classes mais ricas) estão bem servidos. No Brasil, empresas como Casas Bahia e Magazine Luiza, que possibilitam que a base da pirâmide compre, são exemplos de como atender esse público. E mostram o potencial desse segmento. Estamos apenas no início da construção de companhias que, como essas, são dedicadas a esse público. É preciso criar mais modelos de negócio e "pacotes" de consumo que funcionem para os mais pobres. As famílias no Brasil podem hoje ter uma cama e uma geladeira, o que é muito importante. Agora, elas também devem ter acesso à educação, à saúde e assim por diante. Texto Anterior: Análise: Números referentes ao crédito mostram sinais dissonantes Próximo Texto: Raio-X de Michael Chu Índice | Comunicar Erros |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |