São Paulo, domingo, 23 de outubro de 2011

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Digitalização em cinema patina no Brasil

Das 2.100 salas no país, menos de 300 são digitalizadas, o que dificulta abandonar o uso de cópias em 35 mm

Nos EUA, grandes estúdios anunciaram que, a partir de 2013, as cópias em película deixarão de circular

ANA PAULA SOUSA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A película de 35 mm, desenvolvida há mais de um século pela Kodak, a pedido de Thomas Edison, está com os dias contados. Os grandes estúdios norte-americanos, animados com a rápida digitalização das salas (ver quadro), anunciaram que a partir de 2013 as cópias em 35 mm deixarão de circular no país.
Mas o que nos EUA e na Europa é recebido como sinal de evolução tecnológica soa aqui como alarme. Entre as 2.100 salas de cinema do Brasil, menos de 300 são digitais, ou seja, somos absolutamente dependentes da película.
Tais dados dividem as vozes do mercado. Para alguns, ou o segmento corre muito ou teremos um apagão.
Para outros, o alarme foi disparado por grupos interessados em acelerar o processo.
"O Brasil está ficando para trás", diz Howard Kiedaisch, presidente-executivo da empresa britânica Arts Alliance Media, que tem acordo com seis estúdios (Warner, Fox, Universal, Paramount, Disney e Sony) e encabeça o processo de digitalização em vários países.
"Neste momento, os estúdios estão dispostos a ajudar na transição. Mas, quanto mais tempo passar, menos recursos disponíveis haverá."
Kiedaisch, que esteve no Brasil neste mês em seminário organizado pelo Festival do Rio, refere-se ao VPF (virtual print free), contribuição dada por estúdios e distribuidores de filmes aos donos de cinemas. É que, digitalizado o circuito, eles se livram de um custo pesado: o das cópias em 35 mm. O que economizam convertem em aporte.
Deparamo-nos, aqui, com o outro lado da moeda, aquele dos interesses por trás do grito de "apagão". "É alarmismo", retruca Manoel Rangel, presidente da Ancine (Agência Nacional de Cinema).
"As majors abrirão mão do mercado brasileiro? Temos plenas condições de utilizar instrumentos regulatórios e de fomento para impedir o fechamento de cinemas por decisão de distribuidores."

ISENÇÃO DE IMPOSTOS
Um desses instrumentos é a medida provisória que isenta de impostos federais a importação de equipamentos para salas de cinema. A MP está em processo de regulamentação e, se aprovada, deve reduzir os custos dos projetores digitais em cerca de 25%. "Hoje, 80% do valor de um projetor vem de tributos", diz Fabio Lima, da Mobz.
O que a Ancine ainda não deixou claro é até que ponto o governo está disposto a financiar a transição, como fizeram França e Holanda. A digitalização, no mundo todo, foi disparada pelo VPF, sozinho, ou pelo VPF somado à subvenção estatal.
Para alinhavar o formato da contribuição privada, alguns donos de cinemas se uniram para conversar, em bloco, com governo e empresas. "Os circuitos internacionais [UCI e Cinemark] são grandes o bastante para negociar sozinhos. Nós, não. O mercado brasileiro é muito pulverizado, o que dificulta os acordos", diz Adhemar Oliveira, sócio da rede Arteplex.
Para levar adiante tais contratos, complexos e milionários, entram em cena as integradoras, empresas como a Arts Alliance, que fazem a ponte entre distribuidores e exibidores. No Brasil, há cinco empresas, quase todas estrangeiras, tentando desempenhar esse papel. Mas nada foi efetivado ainda.
"Os estúdios priorizaram os acordos nos mercados maiores", diz Marcelo Bertini, presidente do Cinemark. "O atraso tecnológico [do Brasil] tem a ver com problemas estruturais, de caráter fiscal, e com excesso de regulamentação."



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