São Paulo, quinta-feira, 24 de março de 2011 |
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VINICIUS TORRES FREIRE A turistada diplomática de Obama
BARACK OBAMA já havia deixado o Brasil, mas a poeira do "favela tour" que fez no Rio ainda estava nos seus sapatos quando a diplomacia brasileira fez questão de explicitar as diferenças entre Brasil e EUA sobre a questão líbia. Talvez exceto para maníacos em diplomatês, a proposta brasileira sobre o que fazer na Líbia é uma desconversa inconsequente. Isto é, uma conversa irresponsável do ponto de vista de quem considerava necessário evitar o aniquilamento da revolta contra Gaddafi. Não houvesse ataque de EUA e cia., o blá-blá-blá brasileiro a respeito "de mais negociações" seria irrelevante, pois não haveria o que negociar quando o coronel-ditador tivesse cortado todas as cabeças. Porém, a diplomacia brasileira de fato não se ocupava de tomar alguma atitude consequente a respeito da Líbia. Estava fazendo dobradinha com a Índia, eventualmente outro Bric e países menos cotados, a fim de amolar os americanos. Os brasileiros estavam fazendo política de desgaste contra os EUA e mais um manifesto crítico a respeito da distribuição de poder em instituições formais de "governança global", tais como a avacalhada ONU. Essa micropendenga entre Brasil e EUA acerca da Líbia faz pensar de novo na visita de Obama ao Brasil. A viagem de férias entediadas da família Obama ao Brasil não parece ter movido uma palha no celeiro em mau estado, abandonado, das relações entre os dois países. Os EUA continuam a desconsiderar as aspirações megalomaníacas do Brasil de se meter em confusões geopolíticas, coisa para a qual não temos literalmente bala nem dinheiro para pagá-la. Isso fica claro na esnobada do "pleito" por uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU e em relação a todas as propostas brasileiras sobre conflitos internacionais mais sérios -ou até a respeito de Honduras. Os EUA nem se amolam de pensar em reiniciar um diálogo sobre ampliação de comércio com o Brasil (aliás, especialmente depois da crise de 2008, os americanos estão congelando essa conversa com todo mundo). Os EUA sabotam sistematicamente o Brasil e os interesses das empresas brasileiras na Organização Mundial do Comércio. A própria viagem de Obama teve muito de ridículo, de visita à taba. Na palavra exata de Jânio de Freitas nesta Folha, Obama fez "discursos de churrascaria", cheios de clichês e de demagogias fáceis. A diplomacia americana não fez o menor esforço de apresentar uma proposta nova, fazer um agrado maior. Nada. Obama fez "favela tour". Sua família foi assistir a macumba para turistas e bater uma bolinha com o povo, de resto com cara evidente de tédio, o que, aliás, é perfeitamente compreensível. A banalidade das palavras e do programa da visita é mais um indício da indiferença americana e de sua ignorância a respeito do Brasil. Pelo menos parte da elite brasileira considera de péssimo gosto essa turistada diplomática. Se o nível dos diplomatas americanos no Brasil não fosse tão ruim, já teriam aprendido tais coisas. Mas o resumo da ópera é que tanto como evidenciado no "simbolismo" da visita como na prática das relações entre os dois países Brasil e EUA ainda não têm "agenda". E os norte-americanos não parecem ligar muito para isso. vinit@uol.com.br Texto Anterior: Saiba mais: Estatuto exige lista tríplice para indicar sucessor Próximo Texto: Após seis dias paradas, obras em usina devem ser retomadas hoje Índice | Comunicar Erros |
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