São Paulo, domingo, 24 de abril de 2011

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ANÁLISE SAFRA

Países produtores não respondem à altura da demanda

Mais que celebrar safra, Brasil deveria se questionar sobre o que impediu resposta adequada a oportunidades do mercado

ALEXANDRE MENDONÇA DE BARROS
ANA LAURA MENEGATTI
JOSÉ CARLOS HAUSKNECHT
ESPECIAL PARA A FOLHA

A previsão de que o La Niña causaria impactos negativos na produtividade da safra brasileira 2010/11 não se confirmou e volumes recordes são previstos pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento).
Segundo a Conab, a área cultivada foi de 49,3 milhões de hectares e a produção total deve chegar a 157,4 milhões de toneladas, valores, respectivamente, 3,9% e 5,5% superiores à safra 2009/10, que também foi boa. E, por conta dos preços externos, o produtor brasileiro também terá rentabilidade favorável, embora parte seja absorvida pela alta do real.
Se olharmos mais adiante, pensando já na safra 2011/12, o cenário atual aponta para uma continuidade da situação positiva para a agricultura. Sustentados pela demanda por alimentos e pela baixa capacidade de resposta da produção mundial, os preços das commodities agrícolas devem se manter elevados.
Entre os fatores estruturais da demanda estão o crescimento populacional combinado com o aumento da renda e a crescente taxa de urbanização, em especial na China, que, além do aumento no consumo, promove a mudança no padrão alimentar.
O aumento de renda permite que a carne faça parte da alimentação desse "novo" consumidor, que agora consome soja, milho e trigo na forma de proteína animal.
Soma-se a isso a demanda mundial de grãos destinados aos biocombustíveis.
Não estamos querendo dizer que os preços seguirão essa trajetória de alta indefinidamente. Mas apenas chamar a atenção para o fato de que, nos últimos cinco anos, os preços dos alimentos reverteram sua tendência de queda de longo prazo e estão em curva ascendente.
Na realidade é uma quebra de paradigmas na economia agrícola, no qual os preços dos alimentos, que estavam ditados mais pela oferta, agora se encontram pautados mais pela demanda.
Os países produtores não conseguem responder à demanda por alimentos. Nos últimos cinco anos, a área de grãos no Brasil -descontada as áreas de duplo cultivo anual- cresceu somente 1,9 milhão de hectares.
Diante desse cenário, questionamo-nos se os números da safra recorde devem ser comemorados ou se deveríamos nos questionar sobre quais os fatores que impediram uma resposta adequada da agricultura brasileira ante as oportunidades oferecidas pelo mercado.

ALEXANDRE MENDONÇA DE BARROS, ANA LAURA MENEGATTI e JOSÉ CARLOS HAUSKNECHT, engenheiros-agrônomos, são consultores da MBAgro.


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