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Folhainvest
Consumidor quadruplica renda com crédito fácil
Especialistas alertam para uso equivocado de linhas com juros elevados
Percentual de famílias endividadas que usam o cartão de crédito sobe de 69,8% em abril para 71,2% neste mês
GIULIANA VALLONE
TATIANA RESENDE
DE SÃO PAULO
Antes era preciso conversar com o gerente, esperar
dias pela análise de crédito e
ainda correr o risco de ter o
pedido negado. Com o cenário econômico favorável, tomar um empréstimo ficou
mais fácil.
Dados obtidos com as instituições financeiras e com
correntistas mostram que os
clientes conseguem pelo menos quadruplicar sua renda
nos cinco maiores bancos,
considerando empréstimos
no cheque especial, no crédito pessoal e no cartão de crédito, que podem ser retirados
em caixas eletrônicos.
Nilton Pelegrino, diretor
de empréstimos do Bradesco, faz um alerta e compara a
importância do crédito ao
sangue para o ser humano.
"Se for dado um litro a
mais, mata o cliente."
Impulsionado por essa
mola, o consumo das famílias brasileiras cresceu pelo
sexto ano seguido em 2009,
quando esses gastos ainda
ajudaram a amortecer a queda do PIB (Produto Interno
Bruto) causada pela crise internacional.
OBSTÁCULOS
Na opinião do ex-diretor
do Banco Central e economista-chefe da Confederação
Nacional do Comércio, Carlos Thadeu de Freitas, uma
forma de fazer com que esse
novo potencial de consumo,
alavancado pelo crédito farto, seja explorado de forma
mais consciente é criar obstáculos para conceder crédito.
"As crises mundiais mostram que é preciso haver algum constrangimento para
tomar dinheiro emprestado",
afirma Freitas.
Ele se refere ao uso equivocado de linhas com juros altos que poderiam ser substituídas por outras mais vantajosas se o consumidor conhecesse melhor os produtos
oferecidos pelas instituições.
Pesquisa da entidade com
17.800 consumidores no país
aponta que o percentual de
famílias endividadas que
usam o cartão de crédito como uma das formas de financiamento subiu de 69,8% em
abril para 71,2% neste mês,
contribuindo para a elevação
da inadimplência (de 24,4%
para 25,1%).
Esse tipo de empréstimo
tem juros de 10,7% ao mês
para quem cai na armadilha
do pagamento mínimo, ante
2,4% do CDC, por exemplo
(veja quadro nesta página)
Rogério Estevão, superintendente de empréstimos
pessoais do Santander, reitera a necessidade de ensinar
os consumidores a tomarem
crédito conscientemente para viabilizar o crescimento da
carteira de forma sustentável, ou seja, sem elevação da
inadimplência. "O aprendizado é nosso também."
Entre fevereiro de 2007 e o
mesmo mês de 2010, o número de brasileiros com dívidas
acima de R$ 5.000 dobrou,
atingindo 25,7 milhões, segundo o Banco Central -não
há acompanhamento abaixo
desse valor.
Para Luiz Rabi, da Serasa
Experian, quem usa linhas
"emergenciais" como crédito
de longo prazo "mais cedo ou
mais tarde vai ficar inadimplente". E resume assim a euforia com a oferta de crédito:
"Aprecie com moderação".
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