São Paulo, sábado, 24 de julho de 2010

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ANÁLISE ENERGIA

Frota flex maior e demanda por açúcar garantem futuro da cana


EM 2020, CERCA DE 90% DA FROTA SERÁ FLEX, E O CONSUMO DE ETANOL DEVERÁ CHEGAR A 70 BI DE LITROS, COM FATIA SUPERIOR A 80% DO MERCADO


MARCOS FAVA NEVES
ESPECIAL PARA A FOLHA

Um futuro promissor desenha-se para a cana-de-açúcar no país. O crescimento da frota de veículos flex, o aumento do consumo de açúcar nos países emergentes e os gargalos em geração de energia elétrica no Brasil garantirão o consumo dos produtos derivados da cana, que já movimenta US$ 86 bilhões por ano, segundo estudo do centro de pesquisa Markestrat.
Diante de uma demanda firme, quais movimentos podemos esperar do setor para os próximos dez anos? Em 2020, devemos chegar ao processamento de 1,2 bilhão de toneladas de cana (ante 660 milhões atuais), que renderão mais.
A produtividade passará das atuais 80 toneladas por hectare para até 100 toneladas, em resposta a inovações tecnológicas.
O setor também será mais profissionalizado, com a colheita quase totalmente mecanizada e relações de trabalho aprimoradas. Mais concentrada e internacionalizada, a indústria contará com forte presença de petroleiras e tradings, que já buscam aproveitar o consumo de 3 milhões de carros flex que entram no mercado brasileiro todos os anos.
Em 2020, cerca de 90% da frota será flex, e o consumo de etanol deverá chegar a 70 bilhões de litros, com fatia superior a 80% do mercado. O setor será mais competitivo (ineficiências serão superadas), sustentável (autossuprido de eletricidade e combustível) e flexível, processando variedades geneticamente modificadas de cana, de beterraba e gerando plástico, diesel, gasolina, querosene e outros produtos inimagináveis.
No açúcar, a China garantirá o acréscimo de demanda. Os chineses consomem apenas 11 quilos por ano, enquanto o consumo per capita no Brasil é de 60 quilos por habitante.

BENEFÍCIOS
Devido à elevada participação do país no mercado mundial da commodity, seremos os principais beneficiados desse movimento. Neste ano, teremos mais de 50% de participação no mercado global, com produção de 37 milhões de toneladas, exportando 25 milhões.
Para atender à China e ao aumento do consumo para fins industriais, o Brasil deve produzir cerca de 45 milhões de toneladas em 2020, sendo aproximadamente 35 milhões exportadas. Assim, nossa participação no mercado mundial subirá para 65%.
E, na geração de eletricidade, diante da expansão de demanda de 10% ao ano no Brasil, a cana deve tornar-se mais relevante. De uma fatia estimada em 4% na geração neste ano, o setor sucroalcooleiro deve fornecer algo entre 10% e 15% para o consumo de energia em 2020.
Se em 2005 alguém dissesse que o consumo de etanol teria os volumes de hoje e cresceria entre 20% e 25% ao ano, que a maior empresa do setor seria uma petroleira holandesa e que da cana seriam gerados diesel e plástico seria tachado de louco.
Será que acertarei? Será que alguém vai lembrar? O problema é que a internet vai guardar este texto e alguém vai achá-lo em 2020...

MARCOS FAVA NEVES é professor titular de planejamento na FEA/USP (Campus de Ribeirão Preto) e coordenador científico do Markestrat.
Internet: www.favaneves.org



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