São Paulo, sexta-feira, 24 de setembro de 2010

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ANÁLISE

O processo de capitalização da estatal sob vários ângulos

RICARDO ALMEIDA
ESPECIAL PARA A FOLHA

No mercado de ações, os preços dos papéis refletem o valor que as pessoas estariam dispostas a receber para abrir mão de receber algo no futuro. É receber hoje para dar o direito a outro de receber algo no futuro.
Os preços, portanto, refletem o que se espera para o pedaço de um "bolo" a ser repartido. Esse "bolo" são os lucros a serem distribuídos pela empresa ao longo de toda a sua vida.
A notícia de que o pré-sal traria benefícios à Petrobras fez as suas ações dispararem porque o "bolo" iria crescer e cada um acreditava que teria, nesse "bolo" maior, a parte com a qual estava acostumado.
O acionista majoritário, o governo, definiu as regras para os investidores colocarem dinheiro na Petrobras para que o "bolo" pudesse crescer. O "bolo", porém, só cresceria se houvesse investimentos, e a empresa não tinha condições de bancar o que era necessário.
O problema foi que a repartição do "bolo" não seria mais aquela com a qual os investidores estavam acostumados. As ações caíram porque se esperava que o governo tivesse uma condição melhor do que a dos outros investidores para capitalizar a empresa, aumentando sua participação no "bolo".
Pior do que a parte do governo ser maior é ela ter ficado imprevisível durante o processo. Lembrem-se da polêmica sobre o preço justo do barril e o número de barris que fizeram parte da cessão onerosa.
Os investidores mais bem informados venderam suas posições enquanto o preço da ação ainda estava alto e, agora, entrarão de novo com o preço da ação mais baixo. Com isso, evitaram suas perdas.
O governo fez uma engenharia financeira que permitiu aumentar sua participação na Petrobras e conseguir dinheiro com a venda de seus barris que só serão extraídos no futuro. Também ganhou.
Os pequenos investidores amargaram perdas que poderão ser compensadas no caso de conseguirem comprar 34% das ações que tinham. Poderão até ganhar.
Finalmente, os investidores que não tiveram como comprar 34% das ações que possuíam não puderam recuperar as perdas. Eles são os pequenos investidores sem dinheiro para aumentar sua participação e os fundos de aposentadoria e de investimento, que mantêm a carteira diversificada por exigência de seus estatutos.
O sucesso de hoje não se refletirá em benefícios iguais para todos os que participam do mercado de ações e isso pode tornar o mercado de ações brasileiro mais arriscado do que antes. A capitalização passou, mas a sensação de que tudo ficou menos previsível pode ter ficado.


RICARDO ALMEIDA é professor do Insper.


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