|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
ANÁLISE
O processo de capitalização da estatal sob vários ângulos
RICARDO ALMEIDA
ESPECIAL PARA A FOLHA
No mercado de ações, os
preços dos papéis refletem o
valor que as pessoas estariam dispostas a receber para
abrir mão de receber algo no
futuro. É receber hoje para
dar o direito a outro de receber algo no futuro.
Os preços, portanto, refletem o que se espera para o
pedaço de um "bolo" a ser repartido. Esse "bolo" são os
lucros a serem distribuídos
pela empresa ao longo de toda a sua vida.
A notícia de que o pré-sal
traria benefícios à Petrobras
fez as suas ações dispararem
porque o "bolo" iria crescer e
cada um acreditava que teria, nesse "bolo" maior, a
parte com a qual estava acostumado.
O acionista majoritário, o
governo, definiu as regras
para os investidores colocarem dinheiro na Petrobras
para que o "bolo" pudesse
crescer. O "bolo", porém, só
cresceria se houvesse investimentos, e a empresa não tinha condições de bancar o
que era necessário.
O problema foi que a repartição do "bolo" não seria
mais aquela com a qual os investidores estavam acostumados. As ações caíram porque se esperava que o governo tivesse uma condição melhor do que a dos outros investidores para capitalizar a
empresa, aumentando sua
participação no "bolo".
Pior do que a parte do governo ser maior é ela ter ficado imprevisível durante o
processo. Lembrem-se da polêmica sobre o preço justo do
barril e o número de barris
que fizeram parte da cessão
onerosa.
Os investidores mais bem
informados venderam suas
posições enquanto o preço
da ação ainda estava alto e,
agora, entrarão de novo com
o preço da ação mais baixo.
Com isso, evitaram suas perdas.
O governo fez uma engenharia financeira que permitiu aumentar sua participação na Petrobras e conseguir
dinheiro com a venda de seus
barris que só serão extraídos
no futuro. Também ganhou.
Os pequenos investidores
amargaram perdas que poderão ser compensadas no
caso de conseguirem comprar 34% das ações que tinham. Poderão até ganhar.
Finalmente, os investidores que não tiveram como
comprar 34% das ações que
possuíam não puderam recuperar as perdas. Eles são os
pequenos investidores sem
dinheiro para aumentar sua
participação e os fundos de
aposentadoria e de investimento, que mantêm a carteira diversificada por exigência de seus estatutos.
O sucesso de hoje não se
refletirá em benefícios iguais
para todos os que participam
do mercado de ações e isso
pode tornar o mercado de
ações brasileiro mais arriscado do que antes. A capitalização passou, mas a sensação
de que tudo ficou menos previsível pode ter ficado.
RICARDO ALMEIDA é professor do Insper.
Texto Anterior: Minoritários não tiveram voz no processo Próximo Texto: Capitalização "destrava" Bolsa e câmbio Índice | Comunicar Erros
|