São Paulo, domingo, 24 de outubro de 2010

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ENTREVISTA RICARDO LOUREIRO

É preciso aprovar o cadastro positivo com urgência

PRESIDENTE DA SERASA EXPERIAN AFIRMA QUE CRIAR BANCO DE DADOS É ESSENCIAL PARA EVITAR CRISE DE SUPERENDIVIDAMENTO DE BRASILEIROS

CAROLINA MATOS
DE SÃO PAULO

Ricardo Loureiro, 50, presidente da Serasa Experian e da Experian América Latina, diz que o cadastro positivo é "essencial" para traçar o perfil dos tomadores de crédito e evitar uma crise de superendividamento no país.
Além disso, o novo banco de dados -que reuniria informações sobre os pagamentos feitos em dia pelos consumidores- ajudaria a derrubar os juros dos empréstimos, trazer mais 26 milhões de pessoas ao mercado de crédito e injetar R$ 1 trilhão na economia.
A seguir, trechos da entrevista à Folha.

 

CADASTRO POSITIVO
A implementação do cadastro positivo -um banco de dados com toda a história individual de crédito das pessoas, incluindo os compromissos honrados, e não apenas informações de inadimplência- é o primeiro passo para o país evitar uma crise de superendividamento.
Por meio desse cadastro, vai ser possível saber não só o perfil das dívidas -quanto está no comércio, no setor de serviços etc - como também qual é a capacidade de pagamento do cidadão.
No modelo atual, do "cadastro negativo", as empresas só precisam informar quando um cidadão deixa de pagar.
Com a vigência do cadastro positivo, essas empresas vão ter que comunicar, também, toda vez que o consumidor pagar uma conta em dia.
O primeiro projeto do cadastro positivo é de 2004 e precisa ser aprovado com urgência. É uma questão crucial para o novo governo.

JUROS MAIS BAIXOS
Com o novo cadastro, os juros dos empréstimos cairão.
Estudos mostram que, em países que adotam informação positiva compartilhada, o risco de crédito cai entre um terço e metade.
Hoje, esses juros no Brasil são altos porque a inadimplência é rateada: bons pagadores arcam com o ônus gerado pelos maus pagadores.
Com o cadastro positivo, quem paga suas contas em dia vai ter a possibilidade de negociar uma taxa de juros menor, mais adequada ao seu histórico de crédito.
Com isso, nossa estimativa é que a taxa de inadimplência caia pela metade.
O cadastro também permitiria a entrada no mercado de crédito de mais 26 milhões de pessoas, o que injetaria R$ 1 trilhão na economia.

BRASIL X G20
O Brasil é o único do G20 que não tem o cadastro positivo. E também o único entre os Brics, grupo que inclui ainda Rússia, Índia e China.
Não podemos deixar para tomar essa atitude depois de a situação sair do controle.
Na Coreia do Sul, em 1997, a crise da Ásia, que quebrou boa parte do sistema financeiro da região, pegou as famílias com um endividamento altíssimo, que chegou a 96% da renda. O saldo utilizado no cheque especial e no cartão de crédito bateu os 114% do PIB.
Nesse cenário, foram impostas restrições nessas modalidades de crédito e a inadimplência foi a 10,5%.
Para evitar o que poderia ser ainda pior, o governo adotou o cadastro positivo em 2004, para mapear a possibilidade de pagamento das pessoas. A inadimplência caiu para 5,5%. Hoje, está em 1,1%.

DEVEDORES
A taxa de inadimplência das pessoas físicas no Brasil caiu de 7,5% em janeiro deste ano para 6,2% em agosto (dado mais atualizado do BC).
Mas, na comparação com números de Estados Unidos, Reino Unido e mesmo Coreia do Sul, vemos que a taxa é alta no mercado brasileiro.
Nos EUA, que ainda enfrentam uma crise, a inadimplência do consumidor ficou em 5,6% no segundo trimestre de 2010. Antes da crise, girava em torno de 3%. O Reino Unido, que também está em crise, tem taxa de 5,8%.

EDUCAÇÃO FINANCEIRA
Em um cenário de superendividamento, todos os setores são afetados. Mas o varejo tende a ser um grande prejudicado. Isso sem contar o efeito psicológico sobre as famílias e a economia do país.
Precisamos investir na educação financeira dos brasileiros. Muitos são recém-chegados ao mercado de crédito.
Gastar a prazo sem um planejamento provavelmente levará muitas famílias a perder as rédeas da situação.


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