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ENTREVISTA RICARDO LOUREIRO
É preciso aprovar o cadastro positivo com urgência
PRESIDENTE DA SERASA EXPERIAN AFIRMA QUE CRIAR BANCO DE DADOS É ESSENCIAL PARA EVITAR
CRISE DE SUPERENDIVIDAMENTO DE BRASILEIROS
CAROLINA MATOS
DE SÃO PAULO
Ricardo Loureiro, 50, presidente da Serasa Experian e
da Experian América Latina,
diz que o cadastro positivo é
"essencial" para traçar o perfil dos tomadores de crédito e
evitar uma crise de superendividamento no país.
Além disso, o novo banco
de dados -que reuniria informações sobre os pagamentos feitos em dia pelos
consumidores- ajudaria a
derrubar os juros dos empréstimos, trazer mais 26 milhões de pessoas ao mercado
de crédito e injetar R$ 1 trilhão na economia.
A seguir, trechos da entrevista à Folha.
CADASTRO POSITIVO
A implementação do cadastro positivo -um banco de
dados com toda a história individual de crédito das pessoas, incluindo os compromissos honrados, e não apenas informações de inadimplência- é o primeiro passo
para o país evitar uma crise
de superendividamento.
Por meio desse cadastro, vai
ser possível saber não só o
perfil das dívidas -quanto
está no comércio, no setor de
serviços etc - como também
qual é a capacidade de pagamento do cidadão.
No modelo atual, do "cadastro negativo", as empresas só
precisam informar quando
um cidadão deixa de pagar.
Com a vigência do cadastro
positivo, essas empresas vão
ter que comunicar, também,
toda vez que o consumidor
pagar uma conta em dia.
O primeiro projeto do cadastro positivo é de 2004 e precisa ser aprovado com urgência. É uma questão crucial
para o novo governo.
JUROS MAIS BAIXOS
Com o novo cadastro, os juros dos empréstimos cairão.
Estudos mostram que, em
países que adotam informação positiva compartilhada,
o risco de crédito cai entre
um terço e metade.
Hoje, esses juros no Brasil
são altos porque a inadimplência é rateada: bons pagadores arcam com o ônus gerado pelos maus pagadores.
Com o cadastro positivo,
quem paga suas contas em
dia vai ter a possibilidade de
negociar uma taxa de juros
menor, mais adequada ao
seu histórico de crédito.
Com isso, nossa estimativa é
que a taxa de inadimplência
caia pela metade.
O cadastro também permitiria a entrada no mercado de
crédito de mais 26 milhões de
pessoas, o que injetaria R$ 1
trilhão na economia.
BRASIL X G20
O Brasil é o único do G20 que
não tem o cadastro positivo.
E também o único entre os
Brics, grupo que inclui ainda
Rússia, Índia e China.
Não podemos deixar para tomar essa atitude depois de a
situação sair do controle.
Na Coreia do Sul, em 1997, a
crise da Ásia, que quebrou
boa parte do sistema financeiro da região, pegou as famílias com um endividamento altíssimo, que chegou a
96% da renda. O saldo utilizado no cheque especial e no
cartão de crédito bateu os
114% do PIB.
Nesse cenário, foram impostas restrições nessas modalidades de crédito e a inadimplência foi a 10,5%.
Para evitar o que poderia ser
ainda pior, o governo adotou
o cadastro positivo em 2004,
para mapear a possibilidade
de pagamento das pessoas. A
inadimplência caiu para
5,5%. Hoje, está em 1,1%.
DEVEDORES
A taxa de inadimplência das
pessoas físicas no Brasil caiu
de 7,5% em janeiro deste ano
para 6,2% em agosto (dado
mais atualizado do BC).
Mas, na comparação com números de Estados Unidos,
Reino Unido e mesmo Coreia
do Sul, vemos que a taxa é alta no mercado brasileiro.
Nos EUA, que ainda enfrentam uma crise, a inadimplência do consumidor ficou em
5,6% no segundo trimestre
de 2010. Antes da crise, girava em torno de 3%. O Reino
Unido, que também está em
crise, tem taxa de 5,8%.
EDUCAÇÃO FINANCEIRA
Em um cenário de superendividamento, todos os setores
são afetados. Mas o varejo
tende a ser um grande prejudicado. Isso sem contar o
efeito psicológico sobre as famílias e a economia do país.
Precisamos investir na educação financeira dos brasileiros. Muitos são recém-chegados ao mercado de crédito.
Gastar a prazo sem um planejamento provavelmente levará muitas famílias a perder as
rédeas da situação.
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