São Paulo, terça-feira, 25 de janeiro de 2011 |
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NIZAN GUANAES Davos muda, Brasil mudo
SAIO DIRETAMENTE DA praia de Trancoso para Davos, na Suíça. O World Economic Forum é algo do qual se pode divergir, mas não podemos ignorá-lo, como fazem tantos empresários brasileiros. Por que jogar fora essa opor- tunidade de colocar nossas ideias, nossos desacordos, vender o nosso peixe? O governo comparece -nosso novo chanceler, Antonio Patriota, é presença confirmada. Mas por que a Fiesp, a Firjan e a CNI não participam ativamente? Por que nossa indústria, sempre tão chorosa, não vem, não toma posição no debate global travado aqui? A China, a Índia e a Rússia são vozes massivas no evento. E a América Latina só é bem representada pela liderança de Luis Alberto Moreno, presidente do BID, que é um craque. A ausência é ainda mais sentida porque o mundo quer muito ouvir, agora, a nova voz do Brasil. E falar em Davos é falar com o mundo. O Fórum Econômico Global reunirá mais de 2.500 líderes por alguns dias no topo de uma montanha suíça para, como faz todo ano, fomentar a troca de ideias sobre o mundo. É sempre especial. Mas este é um ano especialmente especial. De trocas profundas. De mudan- ças profundas. Davos tirou a crise do hemisfé- rio Norte do centro dos debates e colocou no lugar a necessidade de rearranjos pós-crise e pós-boom inovador. Juntou a revolução geoeconômica e a revolução tecnológica e anunciou para o início da segunda década deste século acelerado a busca por "Normas compartilhadas para a nova realidade". "As transferências de poder econômico e político do Ocidente para o Oriente, do Norte para o Sul, assim como a velocidade da inovação tecnológica, criaram uma realidade completamente nova", disse sobre a edição deste ano Klaus Schwab, o economista e empreendedor alemão que fundou o Fórum Econômico Global em 1971. "Em Davos, neste ano, ao invés de olharmos apenas para os "aftershocks" da crise recente, vamos nos concentrar no entendimento da nova realidade e em debater quais padrões são necessários para favorecer a cooperação global", complementou Schwab. Os velhos ricos precisaram dessa baita crise em suas economias para perceberem o tamanho do outro mundo que emergiu. O nosso mundo: de China, Brasil, Rússia, Índia, Qatar, Indonésia, Turquia, México... No turbilhão do colapso financeiro, o G8 virou rapidamente G20. E não tem volta. Nem o Brasil vai ficar fora des- sa discussão. Já fomos colocados dentro dela. Estão querendo tanto a nossa participação que o próximo fórum será no Rio de Janeiro, em abril, com o ambicioso título: "Estabelecendo as bases para uma década latino-americana". Waaal! Se a década for latino-americana, ela será brasileira. A globalização tem sido e seguirá sendo generosa com o Brasil. O mundo quer e vai consumir cada vez mais o que produzimos muito bem: alimentos, energia, minérios. A esse crescente mercado global, agregamos o outro mercado que faltava para sustentar o crescimento: o grande mercado interno. Aqui em Davos é um ótimo lugar para falar dessas nossas novas forças, conquistas e interesses. E também para entender como os outros fazem melhor o que fazem melhor do que nós. O interesse dos outros vai sofisticar nossa narrativa, nosso entendimento sobre nós. Falar é ouvir. Vamos aprender na troca. Podemos tomar como bom exemplo a Índia. Já recebi mais de 20 convites para eventos sobre o país aqui em Davos. Vou comer curry e beber informação sobre esse grande mercado a semana inteira. Mas, em abril, será no Rio. Eu espero que os governos e, sobretudo, nossos empresários, ONGs, acadêmicos e cientistas deem ao assunto a atenção que China, Índia e Rússia estão dando. A diplomacia comercial é tanto dever público quanto privado. O Brasil potência tem direitos e obrigações consigo mesmo e com o mundo. Articular-se e ser ouvido em fóruns como o de Davos é um dever nosso, por mais que as sereias da acomodação ou do mar de Trancoso insistam para ficarmos. NIZAN GUANAES, publicitário e presidente do Grupo ABC, escreve às terças, a cada 15 dias, nesta coluna. AMANHÃ EM MERCADO: Mario Mesquita Texto Anterior: Energia: Opep pode produzir mais petróleo para atender a demanda maior Próximo Texto: Estudo indica mais gasto com o trem-bala Índice | Comunicar Erros |
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