São Paulo, terça-feira, 25 de maio de 2010

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BENJAMIN STEINBRUCH

Pink dress


Transcrevo o texto que é uma homenagem à minha companheira de viagens, que hoje completa 18 anos


TRANSCREVO aqui o texto que é uma homenagem à minha companheira de viagens, que hoje completa 18 anos e desde os 2 anos me acompanha sozinha pelo mundo. Dando banho, trocando fraldas e escolhendo vestidinhos fui aprendendo com ela...
"Banqueiros, empresários e advogados tomavam goles de seus cafés mornos. Discutiam qual era a melhor maneira de combater a contraproposta que havia sido apresentada por seu interlocutor. Meu pai, cansado, com fuso horário e ansioso para chegar a um consenso, sentava-se na cabeceira da longa mesa de um escritório desconhecido. Aos oito anos, encontrei-me usando um delicado vestido rosa numa sala cheia de ternos escuros."
"Desde pequena, acompanho meu pai em todas as suas viagens de negócios. As viagens começaram quando ele passou a se sentir relutante em deixar minha mãe sozinha, com quatro filhos pequenos, enquanto viajava o mundo para reuniões e negócios."
"À vezes, ele era recebido com muita hesitação por CEOs e políticos que achavam os assuntos "importantes" demais para os ouvidos de uma criança, e ainda por cima do sexo feminino. Sua insistência em me levar, no entanto, permitiu-me descobrir um mundo que no início eu não achava nada adequado para meninas: cadeiras muito grandes, cores muito chatas e comida sem ketchup."
"Embora os adultos falassem a minha língua, as siglas e o jargão financeiro tornavam tudo incompreensível. Eu me desinteressava e começava a desenhar cavalos e estrelas nos papéis ao meu redor. Odiava não conseguir entender as conversas, sentia-me excluída e sem a atenção do meu pai. Por isso, chegou um ponto em que comuniquei que só continuaria viajando com ele se ele começasse a me explicar o que estava acontecendo."
"Enquanto eu rabiscava estrelas, então minha marca registrada, meu pai discretamente me passava um papel com a definição de Ebitda ou explicando o que afinal era "sinergia". Para me deixar interessada, ele me interrogava após cada reunião. Eram perguntas do tipo: "Qual foi a coisa mais importante que o CFO disse?". Eu prestava a maior atenção possível, para tentar impressioná-lo mais tarde. Lentamente, cavalos e estrelas se transformaram em ideias e opiniões."
"Quando comecei a fazer esforço para compreender o que acontecia à minha volta, adquiri as ferramentas para quebrar as barreiras que me separavam dos outros presentes na sala. Percebi que, quanto mais eu me acostumava a ser rodeada por pessoas mais velhas, mais tranquila ficava quando estava com pessoas da minha idade."
"A minha capacidade de superar essa frustração ajudou a drenar a maior parte da insegurança e da timidez que acompanham o início da adolescência." "Esse novo fluxo de confiança extrovertida influenciou meu desenvolvimento como aluna, pois me tirou o medo de levantar a mão, de responder a perguntas ou de ter opiniões controversas."
"Como eu nunca parei de viajar com meu pai, faltava a aulas e meus professores diziam que isso prejudicava meu desenvolvimento. Sentia que precisava escolher entre ser boa aluna ou continuar acompanhando meu pai."
"Foi difícil encontrar minha identidade nesse conflito. Mas depois notei que meu desenvolvimento como pessoa dependia muito do engajamento contínuo nesses dois mundos. Meu jeito de agir nos debates em sala de aula era quase uma imitação do estilo despretensioso, mas assertivo de meu pai. A maior parte das discussões que já tive com ele se origina a partir de teorias do capitalismo e da globalização, que aprendia nas minhas aulas de geografia e história."
"Sempre serei a filha de meu pai, e essa é uma das coisas de que mais sinto orgulho. Por ter sempre me levado com ele, mesmo quando eu não entendia uma palavra, meu pai sempre me estimulou a pensar mais, a querer mais. Ele me deu a chave para um mundo que, apesar da minha idade, comecei a compreender. E agora, nessa nova fase, em que levo meu futuro em minhas próprias mãos, pretendo criar meus planos para a minha próxima etapa, aquela em que meu pai vai se orgulhar de ser pai de sua filha."


BENJAMIN STEINBRUCH, 56, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
bvictoria@psi.com.br

AMANHÃ EM MERCADO: Alexandre Schwartsman



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