São Paulo, sexta-feira, 25 de junho de 2010

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RODOLFO LANDIM

O que falta é meio-campo


O desafio no setor de petróleo parece ser criar condições para a união de capacitação e conhecimento


AS ATRAENTES perspectivas da indústria de bens e serviços na área de petróleo no Brasil são baseadas em três fortes pilares:
1) as contínuas demonstrações de força e estabilidade da economia brasileira;
2) a correta política de conteúdo nacional, que induz as empresas de petróleo a terem um alto percentual de seus investimentos feitos na aquisição de bens e serviços no nosso país; e
3) as perspectivas do desenvolvimento das grandes reservas de hidrocarbonetos já descobertas e ainda por descobrir.
Apesar de nessa área já existir no Brasil uma base bem estruturada para atendimento ao mercado local, considerando o potencial existente e as regras do jogo a ser jogado, há de fato muito a investir, seja na ampliação de negócios já existentes ou na estruturação de outros que passarão a fazer sentido com a maior escala das atividades e os incentivos dados ao "made in Brazil".
Consequentemente, esse nicho de mercado vem atraindo a atenção de inúmeros grupos de investidores estrangeiros e nacionais, que veem nele um segmento atrativo pelas suas expectativas de crescimento estável e contínuo por muitos anos.
Assim sendo, várias têm sido as iniciativas no sentido de estruturar veículos para captar e investir recursos nesse setor sempre de forma a garantir uma participação significativa na gestão das empresas. No entanto, a maioria ainda se encontra sem sucesso em razão de algumas dificuldades encontradas, comuns a quase todas.
A primeira e mais visível é que o mercado de capitais está mais exigente e seletivo desde a crise de 2008. O tempo em que se conseguiam grandes volumes de recursos financeiros de investidores com facilidade e em condições muito favoráveis faz parte do passado. No entanto, sempre haverá interessados em boas oportunidades, principalmente hoje, no Brasil e nessa área. As análises por parte deles podem ser cada vez mais rigorosas, e os retornos de capital pretendidos, mais elevados, mas o dinheiro existe.
A segunda delas é que a identificação das melhores oportunidades de investimento passa sempre pelo acesso a certos tipos de informação e de conhecimento, que é raro em um mercado tão restrito e concentrado como o nosso.
Por exemplo, é de fundamental importância deter uma avaliação das condições atuais das empresas e do setor como um todo no país e identificar os segmentos que com os novos desafios tecnológicos serão mais demandados, além de conhecer aqueles que possuem maiores barreiras naturais de entrada e que, consequentemente, poderão contar com maiores margens de lucratividade por mais tempo.
Por sua vez, o plano de negócios que vier a ser montado deve passar pela identificação dos riscos de insucesso, e estes, se não totalmente eliminados, devem ser devidamente qualificados e quantificados. A verdade é que pouca gente consegue se estruturar a ponto de chegar a esse nível de conhecimento.
A terceira dificuldade tem mais a ver com aspectos operacionais, e o maior deles está relacionado a recursos humanos. A montagem de um time de qualidade talvez seja a mais clara demanda de investidores, já que eles querem ter a certeza de que o dinheiro vai ser administrado por profissionais com um passado de realizações, de preferência com experiência em atividades relacionadas à área de petróleo, com capacidade de entregar o que foi prometido e que tenha com eles total alinhamento de interesses.
É verdade que, com o grande aquecimento do setor, o acesso a profissionais qualificados, principalmente a administradores experientes, tem sido cada vez mais difícil, mas eles existem e quem é do setor os conhece.
Em tempos de Copa, parece que o maior problema está no meio-campo, mas não o da seleção do Dunga. As oportunidades de investimento no setor de bens e serviços da indústria do petróleo existem, o interesse dos investidores também. O grande desafio parece ser criar condições para que aconteça essa união de capacitações e conhecimentos que às vezes parecem pertencer a dois mundos distintos.

RODOLFO LANDIM, 53, engenheiro civil e de petróleo, é conselheiro da Smith International e da Wellstream. Trabalhou na Petrobras, onde, entre outras funções, foi diretor-gerente de Exploração e Produção e presidente da Petrobras Distribuidora. Escreve quinzenalmente, às sextas, nesta coluna.


AMANHÃ EM MERCADO:
Fernando Veloso



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