São Paulo, sábado, 25 de setembro de 2010

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Líder chinês é sabatinado em Nova York

Em reunião com empresários, Wen Jiabao defende política econômica chinesa, mas acena com mudanças

Abertura chinesa ao diálogo visa relaxar tensão causada por questões como política cambial e pirataria

Susan Walsh - 23.set.10/Associated Press
O líder chinês Wen Jiabao e Barack Obama, presidente dos Estados Unidos, encontram-se na sede da Organização das Nações Unidas, em Nova York

DAVID BARBOZA
DO "NEW YORK TIMES"

Quando Bill Gates confronta o líder chinês Wen Jiabao quanto à necessidade de respeito à propriedade intelectual do software, é sempre bom que exista um árbitro -digamos, Henry Kissinger- para moderar o debate.
Foi exatamente isso que aconteceu quarta-feira de manhã, no hotel Waldorf-Astoria, em Manhattan.
Em um notável encontro de 90 minutos no qual Kissinger fez o papel de mediador, Gates e outros importantes executivos e economistas do Ocidente conversaram com Jiabao.
Os demais participantes do círculo -literalmente um grande círculo formado por algumas dezenas de cadeiras- incluíam Jamie Dimon, presidente do JPMorgan Chase; Lloyd Blankfein, presidente do Goldman Sachs; o economista Joseph Stiglitz, laureado com o Nobel de sua disciplina; Kenneth Chenault, presidente-executivo e do conselho da American Express; e Indra Nooyi, presidente-executiva da PepsiCo.
Os principais líderes chineses raramente se encontram com executivos ocidentais. Mas Wen, em Nova York para uma sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, concordou em dialogar com o grupo, possivelmente na esperança de ajudar a relaxar a crescente tensão entre Estados Unidos e China.
A sessão, definida pelas autoridades chinesas como um diálogo com "celebridades econômicas", foi cortês e respeitosa. Mas houve algumas declarações mais agudas para o líder chinês, que ouviu e respondeu por meio de um intérprete.
Chenault disse que o mais importante ativo que uma empresa norte-americana tem é sua marca e pediu ao líder sua opinião sobre o valor de uma marca. Wen respondeu: "Jamais usurparemos marcas alheias".
Nooyi, da PepsiCo, disse a Wen que a China deveria criar incentivos para que as empresas construam fábricas que atendam a padrões ambientais mais rigorosos. Ela disse também que sua empresa havia investido bilhões de dólares na China, e que já se tornara a maior plantadora de batatas no setor privado do país, e perguntou se as empresas norte-americanas receberiam tratamento igual ao das chinesas no mercado da China.
Jiabao respondeu que "suas duas propostas são boas, e que o governo chinês as aceitará".
Robert Rubin, antigo secretário do Tesouro americano, alegou que os imensos superavit chineses no comércio com os EUA podem ter consequências desastrosas.
"Esse desequilíbrio comercial está criando problemas políticos" nos EUA.
Wen reconheceu que os desequilíbrios mundiais são um problema e disse que Pequim está trabalhando em mudanças. Mas contestou a ideia de que a China desfruta da maior proporção dos benefícios comerciais.
"Um iPod é vendido por US$ 299, e a China, no elo produtivo, só recebe US$ 6 por ele", disse Wen.
Quanto a uma das questões mais contenciosas, a política cambial chinesa, Wen pouco teve a dizer. Mas, na noite de quarta-feira, em discurso a um grupo de dignitários envolvidos no relacionamento entre China e EUA, Wen afirmou de maneira mais incisiva que a taxa de câmbio da China não era o problema.

PRESSÃO E CARISMA
Wen indicou que seu país continuaria a resistir às pressões de Washington: "Não existe base para uma valorização drástica do yuan", afirmou. "Vocês não sabem quantas empresas chinesas faliriam. Haveria sérias perturbações. Apenas o primeiro-ministro chinês sente essa pressão."
Wen declarou que seu país não busca "intencionalmente" um grande superavit comercial, algo que os críticos da posição chinesa dizem acontecer quando Pequim mantém sua moeda em cotação artificialmente baixa.

PIRATARIA
Bill Gates, preparando-se para uma viagem à China em benefício da Fundação Gates, sua entidade filantrópica, quis expressar também suas já antigas preocupações quanto à pirataria.
Depois de declarar que o laboratório de pesquisa da Microsoft na China estava indo bem, Gates disse: "Mencionarei uma coisa que não está indo tão bem, e se relaciona à aplicação de direitos de propriedade intelectual, a exemplo de copyrights. Se consideramos os números, não houve grande progresso nos últimos cinco anos".
Wen disse: "O senhor é um homem de negócios que tenho na mais elevada consideração. A moralidade corre nas suas veias. Apoio plenamente sua fundação".
Conhecido na China como "vovô Wen" devido a sua abordagem populista, ele usou charme na resposta: "Admito que os problemas existem. Impusemos medidas administrativas. Creio que deveríamos ter padrões éticos e morais mais elevados quanto ao assunto".


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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