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Líder chinês é sabatinado em Nova York
Em reunião com empresários, Wen Jiabao defende política econômica chinesa, mas acena com mudanças
Abertura chinesa ao diálogo visa relaxar tensão causada por questões como política cambial e pirataria
Susan Walsh - 23.set.10/Associated Press
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O líder chinês Wen Jiabao e Barack Obama, presidente dos Estados Unidos, encontram-se na sede da Organização das Nações Unidas, em Nova York
DAVID BARBOZA
DO "NEW YORK TIMES"
Quando Bill Gates confronta o líder chinês Wen Jiabao quanto à necessidade de
respeito à propriedade intelectual do software, é sempre
bom que exista um árbitro
-digamos, Henry Kissinger- para moderar o debate.
Foi exatamente isso que
aconteceu quarta-feira de
manhã, no hotel Waldorf-Astoria, em Manhattan.
Em um notável encontro
de 90 minutos no qual Kissinger fez o papel de mediador, Gates e outros importantes executivos e economistas
do Ocidente conversaram
com Jiabao.
Os demais participantes
do círculo -literalmente um
grande círculo formado por
algumas dezenas de cadeiras- incluíam Jamie Dimon,
presidente do JPMorgan Chase; Lloyd Blankfein, presidente do Goldman Sachs; o
economista Joseph Stiglitz,
laureado com o Nobel de sua
disciplina; Kenneth Chenault, presidente-executivo e
do conselho da American Express; e Indra Nooyi, presidente-executiva da PepsiCo.
Os principais líderes chineses raramente se encontram com executivos ocidentais. Mas Wen, em Nova York
para uma sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, concordou em dialogar
com o grupo, possivelmente
na esperança de ajudar a relaxar a crescente tensão entre Estados Unidos e China.
A sessão, definida pelas
autoridades chinesas como
um diálogo com "celebridades econômicas", foi cortês e
respeitosa. Mas houve algumas declarações mais agudas para o líder chinês, que
ouviu e respondeu por meio
de um intérprete.
Chenault disse que o mais
importante ativo que uma
empresa norte-americana
tem é sua marca e pediu ao líder sua opinião sobre o valor
de uma marca. Wen respondeu: "Jamais usurparemos
marcas alheias".
Nooyi, da PepsiCo, disse a
Wen que a China deveria
criar incentivos para que as
empresas construam fábricas que atendam a padrões
ambientais mais rigorosos.
Ela disse também que sua
empresa havia investido bilhões de dólares na China, e
que já se tornara a maior
plantadora de batatas no setor privado do país, e perguntou se as empresas norte-americanas receberiam tratamento igual ao das chinesas no mercado da China.
Jiabao respondeu que
"suas duas propostas são
boas, e que o governo chinês
as aceitará".
Robert Rubin, antigo secretário do Tesouro americano, alegou que os imensos
superavit chineses no comércio com os EUA podem ter
consequências desastrosas.
"Esse desequilíbrio comercial está criando problemas
políticos" nos EUA.
Wen reconheceu que os
desequilíbrios mundiais são
um problema e disse que Pequim está trabalhando em
mudanças. Mas contestou a
ideia de que a China desfruta
da maior proporção dos benefícios comerciais.
"Um iPod é vendido por
US$ 299, e a China, no elo
produtivo, só recebe US$ 6
por ele", disse Wen.
Quanto a uma das questões mais contenciosas, a política cambial chinesa, Wen
pouco teve a dizer.
Mas, na noite de quarta-feira, em discurso a um grupo de dignitários envolvidos
no relacionamento entre China e EUA, Wen afirmou de
maneira mais incisiva que a
taxa de câmbio da China não
era o problema.
PRESSÃO E CARISMA
Wen indicou que seu país
continuaria a resistir às pressões de Washington: "Não
existe base para uma valorização drástica do yuan", afirmou. "Vocês não sabem
quantas empresas chinesas
faliriam. Haveria sérias perturbações. Apenas o primeiro-ministro chinês sente essa
pressão."
Wen declarou que seu país
não busca "intencionalmente" um grande superavit comercial, algo que os críticos
da posição chinesa dizem
acontecer quando Pequim
mantém sua moeda em cotação artificialmente baixa.
PIRATARIA
Bill Gates, preparando-se
para uma viagem à China em
benefício da Fundação Gates, sua entidade filantrópica, quis expressar também
suas já antigas preocupações
quanto à pirataria.
Depois de declarar que o
laboratório de pesquisa da
Microsoft na China estava indo bem, Gates disse: "Mencionarei uma coisa que não
está indo tão bem, e se relaciona à aplicação de direitos
de propriedade intelectual, a
exemplo de copyrights. Se
consideramos os números,
não houve grande progresso
nos últimos cinco anos".
Wen disse: "O senhor é um
homem de negócios que tenho na mais elevada consideração. A moralidade corre
nas suas veias. Apoio plenamente sua fundação".
Conhecido na China como
"vovô Wen" devido a sua
abordagem populista, ele
usou charme na resposta:
"Admito que os problemas
existem. Impusemos medidas administrativas. Creio
que deveríamos ter padrões
éticos e morais mais elevados
quanto ao assunto".
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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