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Banco israelense recebeu US$ 2,2 bi de brasileiros
PF investiga 111 pessoas sob suspeita de remessa ilegal para agência de NY
Caso envolve grandes empresários; advogado quer parar investigação
argumentando que há problemas na apuração
MARIO CESAR CARVALHO
DE SÃO PAULO
MÔNICA BERGAMO
COLUNISTA DA FOLHA
Os 111 brasileiros que estão
sendo investigados pela Polícia Federal sob suspeita de
remessa ilegal de dólares enviaram US$ 2,2 bilhões para
uma agência do Israel Discount Bank, em Nova York,
entre 2000 e 2005.
O valor, equivalente hoje a
R$ 3,9 bilhões, foi apurado
pela promotoria de Nova
York numa investigação sobre lavagem de dinheiro em
decorrência dos casos do Banestado, Merchants Bank e
Beacon Hill, todos usados
por doleiros brasileiros.
É com base na documentação levantada nos EUA que a
PF está ouvindo nesta semana e na próxima os suspeitos
de remessa ilegal. Dois delegados da PF do Paraná foram
deslocados para São Paulo
para tomar os depoimentos.
Ontem, a Folha revelou a
existência da investigação
sobre as contas secretas.
O caso está sob segredo de
Justiça, mas se tornou ruidoso porque envolve grandes
empresários, donos de joalherias e importadores, segundo a Folha apurou. A
maior parte é de ascendência
judaica, mas há empresários
de outras origens na lista.
"Não sei por que esse caso
provoca tanto barulho. É um
desdobramento a mais de investigação sobre remessas
aparentemente ilegais", diz a
delegada Érika Marena.
Segundo ela, a PF já fez
mais de 3.000 inquéritos
com clientes de doleiros.
A apuração demorou cinco anos para ouvir os suspeitos por causa da complexidade das checagens, segundo a
delegada. Em 2006, a Justiça
brasileira recebeu da promotoria de Nova York informações sobre 221 contas do Israel Discount Bank supostamente de brasileiros.
Havia entre elas contas
que não eram de brasileiros e
outras que não tinham movimentação. A PF fez laudos
técnicos de cada uma.
A Receita analisou se os
clientes tinham declarado a
conta no exterior -só oito
haviam feito isso. Em 30 de
agosto deste ano, após o expurgo das contas legais, o
juiz federal Sérgio Moro, de
Curitiba, mandou instaurar
111 inquéritos.
O Israel Discount Bank, o
terceiro maior banco de Israel, sofreu uma investigação em 2005 da promotoria
de Nova York porque não
adotava todos os mecanismos previstos na lei dos EUA
contra lavagem de dinheiro.
No caso da clientela brasileira, o banco não checava a
origem do dinheiro, como
prevê a legislação dos EUA
após os ataques de 11 de setembro de 2001 -um dos alvos da lei é o financiamento
ao terrorismo.
Doleiros brasileiros usavam a agência daquele banco, segundo a promotoria. Os
investigados agora pela PF
eram clientes dos doleiros,
segundo Marena.
CONTESTAÇÃO
O advogado Alberto Toron
entrou com um pedido de habeas corpus para parar a investigação porque vê problemas na apuração. "Assim como o réu não pode escolher
juiz, o juiz não pode escolher
causas. O juiz natural desse
caso deve ser de São Paulo,
não de Curitiba", defende.
O advogado Celso Vilardi
também contesta a investigação. "A prova é ilícita. O Supremo já decidiu que não pode haver quebra de sigilo a
partir de listas. Os casos têm
de ser individualizados."
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