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Real valorizado adia "sonho indiano"
Empresas brasileiras de tecnologia abandonam plano de ser a "nova Índia" em software e miram mercado nacional
Dólar a R$ 1,70 faz serviços das empresas brasileiras custarem 30% a mais que os das concorrentes indianas
CAMILA FUSCO
DE SÃO PAULO
A valorização do real e a
pressão por custos entre empresas norte-americanas,
principais compradoras de
serviços de tecnologia da informação, estão fazendo empresas brasileiras repensarem as vendas externas.
A vocação para ser "a nova
Índia" em exportação de serviços de programação de
software, amplamente alardeada pelo setor nos últimos
anos, passou a ser revista e
empresas brasileiras voltam
suas atenções para o mercado nacional.
"Antes da crise, víamos
um movimento crescente de
diversificação aos serviços
indianos, mas a pressão cada
vez maior por custos inibiu a
diversificação", diz Benjamin Quadros, presidente da
BRQ Software.
Serviços como desenvolvimento de software e programação movimentam por ano
cerca de US$ 565 bilhões, segundo a consultoria americana IDC. Empresas norte-americanas respondem por 37%
do volume comprado.
A Índia é a principal fornecedora desses serviços e tradicionalmente cobra menos
do que as empresas brasileiras -algo atribuído principalmente à carga tributária.
Com a valorização do real, a
disparidade passou a ser ainda maior.
Com o dólar no patamar de
R$ 1,70, os custos dos serviços brasileiros estão 30% acima dos das indianas.
"Hoje um funcionário com
os benefícios custa o dobro
de seu salário bruto para a
empresa. Com a alta carga
tributária para as empresas
muito intensivas em mão de
obra, isso torna as exportações praticamente proibitivas", diz Antonio Gil, da Associação Brasileira de Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação.
O efeito da valorização do
real está principalmente no
valor exportado. Enquanto a
Índia venderá cerca de
US$ 60 bilhões em serviços
de TI, as exportações brasileiras somarão US$ 4 bilhões.
Há dois anos, a BRQ adquiriu uma empresa americana
de serviços com faturamento
de US$ 7 milhões. A intenção, segundo Quadros, era
utilizá-la como atalho para a
expansão nos EUA e atingir
US$ 50 milhões neste ano. O
faturamento externo, porém,
será de US$ 10 milhões.
Assim como outras companhias brasileiras de serviços, a alternativa está nos
clientes nacionais, sobretudo bancos, empresas do setor
de telecomunicações e do ramo de petróleo e gás. No ano,
a companhia estima faturar
R$ 240 milhões, crescimento
de 20% sobre 2009.
MERCADO LOCAL
Segundo Reinaldo Roveri,
da IDC, o mercado brasileiro
é saudável principalmente
porque permite às empresas
nacionais investir em oportunidades internas, sem depender das vendas para
clientes estrangeiros.
"O Brasil tem hoje um mercado interno de tecnologia e
telecom de US$ 90 bilhões,
maior do que o da Rússia e o
da Índia somados", diz.
Eventos esportivos que serão realizados no Brasil, como a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016, também devem contribuir. Segundo a
consultoria A.T. Kearney, os
dois eventos devem movimentar US$ 5,7 bilhões somente em tecnologia.
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