São Paulo, quinta-feira, 25 de novembro de 2010

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Real valorizado adia "sonho indiano"

Empresas brasileiras de tecnologia abandonam plano de ser a "nova Índia" em software e miram mercado nacional

Dólar a R$ 1,70 faz serviços das empresas brasileiras custarem 30% a mais que os das concorrentes indianas

CAMILA FUSCO
DE SÃO PAULO

A valorização do real e a pressão por custos entre empresas norte-americanas, principais compradoras de serviços de tecnologia da informação, estão fazendo empresas brasileiras repensarem as vendas externas.
A vocação para ser "a nova Índia" em exportação de serviços de programação de software, amplamente alardeada pelo setor nos últimos anos, passou a ser revista e empresas brasileiras voltam suas atenções para o mercado nacional.
"Antes da crise, víamos um movimento crescente de diversificação aos serviços indianos, mas a pressão cada vez maior por custos inibiu a diversificação", diz Benjamin Quadros, presidente da BRQ Software.
Serviços como desenvolvimento de software e programação movimentam por ano cerca de US$ 565 bilhões, segundo a consultoria americana IDC. Empresas norte-americanas respondem por 37% do volume comprado.
A Índia é a principal fornecedora desses serviços e tradicionalmente cobra menos do que as empresas brasileiras -algo atribuído principalmente à carga tributária. Com a valorização do real, a disparidade passou a ser ainda maior.
Com o dólar no patamar de R$ 1,70, os custos dos serviços brasileiros estão 30% acima dos das indianas.
"Hoje um funcionário com os benefícios custa o dobro de seu salário bruto para a empresa. Com a alta carga tributária para as empresas muito intensivas em mão de obra, isso torna as exportações praticamente proibitivas", diz Antonio Gil, da Associação Brasileira de Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação.
O efeito da valorização do real está principalmente no valor exportado. Enquanto a Índia venderá cerca de US$ 60 bilhões em serviços de TI, as exportações brasileiras somarão US$ 4 bilhões.
Há dois anos, a BRQ adquiriu uma empresa americana de serviços com faturamento de US$ 7 milhões. A intenção, segundo Quadros, era utilizá-la como atalho para a expansão nos EUA e atingir US$ 50 milhões neste ano. O faturamento externo, porém, será de US$ 10 milhões.
Assim como outras companhias brasileiras de serviços, a alternativa está nos clientes nacionais, sobretudo bancos, empresas do setor de telecomunicações e do ramo de petróleo e gás. No ano, a companhia estima faturar R$ 240 milhões, crescimento de 20% sobre 2009.

MERCADO LOCAL
Segundo Reinaldo Roveri, da IDC, o mercado brasileiro é saudável principalmente porque permite às empresas nacionais investir em oportunidades internas, sem depender das vendas para clientes estrangeiros.
"O Brasil tem hoje um mercado interno de tecnologia e telecom de US$ 90 bilhões, maior do que o da Rússia e o da Índia somados", diz.
Eventos esportivos que serão realizados no Brasil, como a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016, também devem contribuir. Segundo a consultoria A.T. Kearney, os dois eventos devem movimentar US$ 5,7 bilhões somente em tecnologia.


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