São Paulo, quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

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Anos Lula terminam com deficit externo recorde

Rombo de US$ 47,5 bi em 2010 foi totalmente coberto por investimento direto

País fecha conta com ingresso de recursos da China; gasto de turista no exterior já responde por 20% do deficit

EDUARDO CUCOLO
DE BRASÍLIA

Com a ajuda da China, o Brasil conseguiu fechar 2010 com recursos suficientes para financiar o rombo nas suas contas externas, que registraram o pior resultado nos oito anos de governo Lula.
A recuperação da economia brasileira e o dólar barato levaram o país a um deficit de US$ 47,5 bilhões nas transações com o exterior, maior valor da série iniciada em 1947 pelo Banco Central.
Na comparação com o PIB, o deficit de 2,3% é o maior desde 2001.
A maior parte do resultado se deve ao aumento de importações, a remessas de lucros e a gastos com viagens e serviços fora do país.
As transações correntes englobam, basicamente, a balança comercial, a balança de serviços (viagens, remessa de lucros) e transferências unilaterais (recursos enviados por brasileiros residentes no exterior, por exemplo).
Somadas à entrada e à saída de capitais (investimento direto e em títulos e ações), formam o balanço de pagamentos, que ficou positivo em US$ 49,1 bilhões em 2010.
O deficit nas transações correntes foi financiado pela entrada de US$ 48,5 bilhões em investimentos diretos em companhias, contrariando previsões do próprio BC, que foi surpreendido pela conclusão de um negócio três dias antes da virada do ano.
Entraram no país US$ 7,1 bilhões, referentes a uma operação da petrolífera chinesa Sinopec, que comprou 40% da Repsol no Brasil.
A compra foi anunciada em outubro, mas a demora em se concretizar levou o BC a estimar que o dinheiro só entraria no país em 2011.
Apesar da recuperação, o investimento estrangeiro ainda está abaixo do verificado antes da crise de 2008 na comparação com o PIB.
Estimativas do governo para este ano mostram que não será possível financiar essa conta só com investimento direto.

AÇÕES E TÍTULOS
Para cobrir a diferença entre deficit estimado em US$ 64 bilhões e investimento direto de US$ 45 bilhões, será necessário contar com aplicações estrangeiras em ações e títulos -mais instáveis.
Pela previsão do BC, não vai faltar dinheiro. São esperados US$ 40 bilhões em investimentos em títulos no país e ações, 23% abaixo do verificado em 2010, que foi influenciado pela oferta de ações da Petrobras.
O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, afirma que o percentual do deficit está em nível que não é "absurdo" e que não há problemas para financiar essa conta.
Diz ainda que os gastos com serviços acompanham o aumento de investimentos e do comércio exterior. Além disso, muitas filiais brasileiras ajudaram suas matrizes fora do país remetendo lucro.
Analistas concordam que o Brasil não deve viver uma crise de financiamento nas contas externas no curto prazo. O país terá de atrair, no entanto, cada vez mais dólares para cobrir esses gastos, pois não tem condições de produzir os bens e serviços de que precisa para crescer.

TURISMO
O gasto de brasileiros com viagens e cartão de crédito fora do país chegou ao recorde de US$ 16,4 bilhões -alta de 50% ante 2009. A despesa de estrangeiros que visitaram o Brasil também foi recorde (US$ 5,9 bilhões).
A diferença entre os dois números gerou deficit de US$ 10,5 bilhões, valor inédito e que responde por mais de 20% do resultado negativo do Brasil nas suas transações com exterior.


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