São Paulo, quarta-feira, 26 de janeiro de 2011 |
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ANÁLISE PETRÓLEO Uso da Petrobras pode gerar resultados perversos ao país
WALTER DE VITTO ESPECIAL PARA A FOLHA Parece altamente improvável que a Petrobras emplaque junto ao governo a redução do índice de nacionalização dos itens e serviços a serem utilizados na exploração das novas reservas do pré-sal, de 65% para 35%. Segundo reportagem publicada nesta Folha na última segunda-feira, alguns dirigentes estariam pleitean- do essa redução, tendo em vista os preços mais altos e a incapacidade da indústria nacional em atender integralmente, no prazo, à demanda da empresa. De fato, a política de favorecimento aos produtores locais deve levar a Petro- bras a pagar mais caro pe- los serviços e equipamentos que contrata. E o custo dessa política é pago pelos acionistas, através de menores retornos, ou pelos consumidores, que arcam com preços mais altos no mercado doméstico. Como atualmente enfrenta restrições para a realização de gastos, dada a necessidade de gerar superavit primários, o governo federal tem lançado mão de outros instrumentos para colocar em prática tais políticas. É nesse contexto que se insere a Petrobras. Valendo-se de sua posição de controlador, o governo tem utilizado a empresa -cujos investimentos correspondem a 2% do PIB- como instrumento de política industrial. A imposição de percentuais mínimos de nacionalização dos bens e serviços adquiridos pela petroleira faz parte dessa estratégia. Não há consenso sobre a eficácia de políticas desenvolvimentistas. Há casos de sucesso, como o implantado pela Coreia do Sul, que conseguiu bons resultados e alcançou maiores níveis de desenvolvimento econômico. Por outro lado, não faltam exemplos de fracasso, como o do Brasil, que, após décadas, não conseguiu resultados satisfatórios. A tentativa frustrada de desenvolver a indústria de informática nos anos 1970 e 1980 é o caso mais em- blemático. Contudo, há, notoriamente, alguns problemas associados às políticas de desenvolvimento industrial. Em geral, essas estraté- gias distorcem os preços relativos e interferem no processo alocativo. Os incentivos concedidos a determinados setores lhes concedem vantagens na disputa por fatores de produção (capital e trabalho), podendo criar dificuldades para aqueles que não contam com os mesmos favorecimentos. Além disso, há importantes efeitos cambiais. O in- centivo à nacionalização da produção de serviços e equipamentos contribui para a valorização do real ao re- duzir a demanda por importados e, consequentemen- te, por dólares. E a valorização do real, por sua vez, gera uma dinâmica perversa ao tornar a indústria nacional menos competitiva e ampliar a demanda por incentivos. WALTER DE VITTO é mestre em economia e analista do setor de energia da Tendências Consultoria Integrada. Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Mario Mesquita: Para não contar com a sorte Índice | Comunicar Erros |
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