São Paulo, sábado, 26 de março de 2011

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cifras & letras

CRÍTICA ECONOMIA

Obra explica mudanças no Brasil nos últimos 25 anos

Professor da Universidade Columbia discute avanços sob a democracia


CONQUISTA DIVISORA DE ÁGUAS VIRIA COM O CONTROLE DA INFLAÇÃO E UMA RACIONALIDADE MAIOR NOS GASTOS


RAFAEL CARIELLO
COLABORAÇAO PARA A FOLHA

Os cem anos de nascimento de Tancredo Neves (1910-1985), comemorados no ano passado, serviram de mote para o então candidato do PSDB à Presidência, José Serra, tentar se situar além das comparações propostas pelo PT entre os governos de Fernando Henrique Cardoso (1994-2002) e Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010).
O início da mudança por que passa o Brasil não havia começado no governo petista, tampouco na gestão tucana. Era obra de 25 anos de redemocratização, e tivera início com a escolha de Tancredo pelo Colégio Eleitoral.
Dilma Rousseff também não deixou de prestar loas ao primeiro presidente civil do país em mais de 20 anos, e de depositar flores em seu túmulo quando era candidata.
Para quem viveu os conturbados anos de hiperinflação e desajuste político sob José Sarney (1985-1990) e Fernando Collor (1990-1992), a ênfase na continuidade entre a primeira década e os anos subsequentes do recente período democrático poderia parecer imprópria.
Mas, para além dos governos de turno e mesmo do marco do fim do regime militar, a lógica de lentos processos de mudança social e econômica, vistos em perspectiva mais ampla, parece permitir tal recorte.
É essa a história contada pelo economista Albert Fishlow em seu livro "O Novo Brasil". O professor emérito da Universidade Columbia destrincha estatísticas para explicar as grandes mudanças vividas pelos brasileiros nos últimos 25 anos -e tentar distinguir continuidades e rupturas no período.
O ponto de chegada é um país de economia relativamente estável e menos pobre; que conta com instituições mais sólidas, avanços reconhecíveis, ainda que insuficientes, na saúde e na educação, e maior importância na política internacional.
O processo, mesmo que de maneira conturbada, começara antes. Fishlow critica o desnível entre altos gastos sociais e parcos resultados antes de 1994, mas não deixa de registrar a mudança que já estava em curso.
Na educação, houve avanços na presença escolar em todas as idades ainda nos anos 1980. Na economia, uma lenta abertura comercial teve início na segunda metade do governo Sarney. A Constituição de 1988 foi decisiva para melhorar o funcionamento da Justiça.

INFLAÇÃO
A conquista divisora de águas no período viria depois, com o controle da inflação e uma maior racionalidade dos gastos públicos. Entretanto, tal "ruptura" contribuiu, por sua vez, para a criação de consensos cada vez maiores, entre os principais partidos, quanto às políticas econômica e social.
A obra de Fishlow confirma que o processo histórico, na democracia, é talvez maçante, desprovido de grandes gestos e mais afeito à árida análise técnica do que à narrativa literária. Mas seus resultados não deixam de ser "impressionantes". É como o autor caracteriza a mudança na distribuição de renda no país nos últimos dez anos.
Melhor assim.

O NOVO BRASIL

AUTOR Albert Fishlow
EDITORA Saint Paul
QUANTO R$ 59 (288 págs.)


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