São Paulo, domingo, 26 de junho de 2011

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MARCELO NERI

Objetos voadores identificados


Em 2001, a Turquia merecia ser Bric muito mais do que o Brasil, mas Trics é uma sigla bem menos sólida


UM ANO depois da crise internacional de 2008, a revista inglesa "The Economist" identificou objeto voador emergindo das montanhas do Rio. Muitos duvidaram, mas a foto na capa da revista não deixou dúvidas. Nela podia se identificar claramente a imagem do Cristo Redentor decolando na vertical. Se ele foi capaz de reencarnar, o voo em si não seria um feito tão grande -pensei.
Em certo momento, o Cristo aparece -argentinos que nos perdoem- vestindo a camisa da seleção canarinho -sem as propagandas de praxe, é claro. Confirmando a máxima de que Deus é brasileiro.
Outros objetos foram avistados nos céus de outras partes pobres do globo: China, Índia, Rússia e, agora, África do Sul. Todas construções humanas, dessas feitas de tijolo, valendo o apelido de Brics (o inglês do observador não era dos melhores).
Construções conhecidas, tendo algumas delas sido eleitas pelo voto direto em escala global entre as sete novas maravilhas da humanidade.
Quem quiser ver para crer acesse www.fgv.br/cps/brics.
A emergência dos Brics simboliza um novo tempo. A ascensão econômica de dezenas de milhões de pessoas tem mantido a economia global girando. Seguramente em toda a história da humanidade nunca tantos saíram da pobreza como nas últimas duas décadas, devido ao ocorrido na China e na Índia.
E o processo ainda está no seu começo -os países dos Brics hoje abrigam mais da metade dos pobres do mundo.
Segundo o Goldman Sachs, até 2050 os Brics multiplicarão por sete a razão do seu PIB agregado com a dos países do G7. Hoje, é menos de um terço do G7, e, em 2050, será o dobro. O erro nas projeções datadas de 2001 foram no sentido de subestimar o descolamento dos primeiros em relação aos últimos até agora, em especial depois da crise.
É verdade que o que ocorre nos Brics acontece em outros países, como Indonésia, Turquia e Chile -só para citar alguns. Mas o que é especial nos Brics é a extensão populacional e geográfica dos países e a diversidade entre eles. Podemos, com apenas cinco figurinhas Brics, representar a grande transformação em curso na humanidade.
Faltaria talvez um país do Oriente Médio para ter uma amostra representativa das pessoas da aldeia global. A rigor, a Turquia, em 2001, merecia mais fazer parte do grupo de emergentes do que o Brasil, mas Trics parecia uma sigla menos sólida do que Brics. Hoje, o descolamento da economia do Brasil em relação aos demais Brics é menor.
O Brasil vai melhor para a população do que para os economistas. O reverso acontece nos demais Brics. A definição do grupo dos Brics seguiu considerações de peso econômico prospectivo. O aspecto em que o Brasil se destaca é na melhoria de vida da população numa democracia operante, como frisou o presidente dos EUA, Barack Obama, em sua recente visita aqui.
Há descasamento nos Brics entre a prosperidade captada pelos indicadores econômicos e sociais. O descolamento no Brasil é favorável aos últimos, e, nos demais Brics, aos primeiros. Se não, vejamos: a renda média da população captada por pesquisas domiciliares tem crescido mais que o PIB aqui e menos alhures. A desigualdade está em queda aqui e em alta em todos os demais Brics, assim como no G7.
A felicidade reportada só tem aumentado aqui. Por fim, a expectativa de felicidade futura cinco anos à frente: o Brasil continua recordista mundial em 2014. Fazendo jus ao nosso apelido de país do futuro.
No centro da massiva transformação de pobreza presente em riqueza futura está a nova classe média dos Brics que é a face humana mais palpável dessa revolução.
Quem quiser conhecer os detalhes da comparação dos grupos emergentes entre os países emergentes acesse o link acima onde estará a pesquisa lançada amanhã em São Paulo logo antes do seminário "Oportunidades para a Maioria", do BID.
Nela, para além das reflexões globais, teremos dados nacionais atuais até maio de 2011 e dados locais identificando a composição de classes econômicas FGV em cada um dos mais de 5.500 municípios brasileiros.
MARCELO NERI, 48, é economista-chefe do Centro de Políticas Sociais e professor da EPGE, na Fundação Getulio Vargas. Internet: www.fgv.br/cps
mcneri@fgv.br

AMANHÃ EM MERCADO:
Maria Inês Dolci



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