São Paulo, sábado, 27 de novembro de 2010

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Cresce disputa para investir em empresas

Chegada de novos grupos estrangeiros para o setor de "private equity" faz aumentar a competição no Brasil

Dinheiro, sozinho, não é mais suficiente para convencer donos de empresas a vender parte da companhia

DE SÃO PAULO

O número crescente de fundos de "private equity" (participação em empresas) no Brasil -e que concorrem muitas vezes pelas mesmas empresas- tem provocado um fenômeno de concorrência por investimentos inédito para o setor no país.
Segundo especialistas, apenas dinheiro já não é suficiente para convencer os empresários a vender parte de suas companhias, uma característica do amadurecimento da indústria de "private equity" no Brasil.
"À medida que os fundos garimpam oportunidades e as empresas percebem que estão sendo cobiçadas, elas começam a querer falar com outras empresas de investimento para descobrir qual o melhor parceiro", diz Claudio Furtado, da FGV-Eaesp.
Além dos termos financeiros, os empresários começam a se interessar pela forma como os fundos vão participar da gestão e das oportunidades de crescimento.
Embora tenha sido cortejado por quase dez fundos de investimentos nos últimos anos, o Grupo Multi -controlador de escolas de idiomas como Wizard, Alps e Skill- optou por fechar parceria com a Kinea, empresa controlada pelo banco Itaú, não apenas pelo dinheiro, mas pelo formato da transação.
A proposta envolvia a compra de participação minoritária -estima-se que inferior a 20%- por R$ 200 milhões e também a permanência da família Martins na gestão da companhia, condição fundamental desejada pelos controladores.
"Além do nome forte do banco, o Kinea mostrou ao Multi que poderia acelerar as negociações para uma aquisição que já estava nos planos", diz Cristiano Laurentti, da Kinea.
Dias depois do anúncio da parceria, o Multi anunciou a aquisição do rival Yázigi por R$ 250 milhões, transação que foi possível apenas com a intermediação do banco.

EXPERIÊNCIA LOCAL
Segundo Chu Kong, da Actis, o principal apelo da companhia para conquistar os gestores está em mostrar a experiência dos executivos no mercado local e também fazer um paralelo com a expansão em outros países emergentes.
"Mostramos também que dominamos a cultura empresarial brasileira, o relacionamento de negócio e a trajetória pessoal de cada sócio, além de falarmos a linguagem do líder da empresa em questão. Ao conhecer a cultura de negócios no Brasil, passamos essa confiança para o empresário", diz.
Entre as empresas mais concorridas pelos fundos de investimento estão aquelas com perspectivas de retorno mais rápido de investimento, segundo os especialistas.
"Empresas em estágios mais desenvolvidos, numa fase quase pré-abertura de capital, naturalmente vão ter mais compradores interessados, desde fundos de "private equity" até investidores diretos. A consequência é que o preço desses negócios sobe e chega a se aproximar quase do valor que a empresa chegaria em Bolsa", diz Juan Carlos Felix, diretor de investimentos do Carlyle para a América do Sul.
Com três grandes investimentos no Brasil ao longo de 2010 -a compra de 64% da CVC em janeiro, 70% da gestora de planos de saúde em julho e 51% da Scalina, dona da Trifil em agosto-, o Carlyle mira empresas com origem familiar e com ajustes a fazer em governança.
"Procuramos empresas com origem familiar em que precisamos regularizar algumas questões de governança", afirma Félix.
Dentro desse escopo, não há dificuldades em encontrar negócios, segundo Félix. "Não há mais dúvidas para o investidor de que o Brasil é o lugar para colocar recursos. As questões agora recaem sobre como convencer o dono da empresa a escolher determinado fundo e não o seu concorrente."
(CAMILA FUSCO)

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