São Paulo, segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

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ENTREVISTA CARLOS CONSTANTINI

Tendência é que investidor opte por ação protegida da inflação


ESTRATEGISTA DO ITAÚ BBA VÊ MERCADO PREOCUPADO COM PREÇOS E ACREDITA QUE PAPÉIS DE EMPRESAS DE COMMODITIES DEVEM SUBIR COM MELHORA NOS EUA


ÉRICA FRAGA
DE SÃO PAULO

Preocupações com o recente aumento de preços no Brasil deverão levar os investidores no país a uma procura crescente de "proteção contra a inflação" no mercado de ações.
A opinião é de Carlos Constantini, que ocupa o cargo de estrategista-chefe da corretora do Itaú BBA.
O time de análise de ações comandado por Constantini foi eleito o melhor do Brasil neste ano pela revista "Institutional Investor".
A seguir, confira os principais trechos da entrevista que o estrategista-chefe do banco concedeu à Folha.

 


Folha - Apesar do forte crescimento da economia, 2010 não foi um ano excepcional para a Bolsa brasileira. Por quê?
Carlos Constantini
- Olhando na superfície, temos uma Bolsa que não se valorizou muito. Mas as empresas com peso menor no Ibovespa estão encerrando 2010 com altas muito expressivas pelo segundo ano consecutivo.
Foi um ano em que quem se deu bem foram as empresas ligadas ao setor real doméstico, que tinham exposição aos 32 milhões de brasileiros que passaram a consumir, a ter acesso ao crédito.
Já as empresas que tinham receitas predominantemente voltadas para a exportação enfrentaram uma diminuição de seus mercados e uma invasão de competição de importados. O mote de 2010 foi a redução dos mercados consumidores nos países desenvolvidos e o desenvolvimento dos mercados consumidores nos emergentes.

E esse cenário deve mudar em 2011?
Em 2011, devemos ver mais do mesmo, mas com menor intensidade.
Em primeiro lugar, porque, em alguns casos, as empresas de consumo estão três vezes mais caras do que estavam em 2008. Então, em termos de montagem de carteira, estamos recomendando o que chamamos de consumo defensivo.
Queremos estar expostos a consumo, mas buscando alternativas que não sejam, talvez, o varejista. Na nossa carteira, por exemplo, temos Cosan, que consideramos ação de consumo, já que metade da empresa é distribuição de combustível. Empresas aéreas são outro exemplo.
Basicamente ainda queremos estar expostos a esse mercado consumidor, mas buscando nomes que não estejam tão caros.
Além disso, muito da realocação de portfólio já aconteceu. Nas últimas 43 semanas, tivemos apenas três semanas de saídas líquidas de recursos para mercados de países emergentes.

Mas os senhores esperam valorização expressiva da Bovespa em 2011...
Sim, para 87 mil pontos, uma valorização de cerca de 25%. Ainda vemos espaço para valorização razoável de Petrobras e de Vale porque as ações dessas empresas ficaram muito atrasadas.
Achamos que o primeiro semestre ainda será melhor para as empresas de segunda linha. Então, vamos começar o ano com uma carteira muito parecida com o que foi em 2010, basicamente uma carteira de consumo.
Para o segundo semestre, temos a expectativa de que fará sentido voltar às ações de commodities. Embora esse não seja nosso cenário central, se o real começar a se depreciar, as empresas de commodities e as exportadoras podem ser beneficiadas.
Além disso, nossas análises levam em conta as expectativas futuras, de longo prazo inclusive, dos lucros e dos fluxos de caixa das empresas. Essas projeções mostram que, a médio e a longo prazos, há muito potencial de valorização para Petrobras, Vale e o setor de siderurgia.

O que deverá favorecer os preços de ações de empresas de commodities?
Uma percepção de melhora na recuperação dos EUA. Quando houver convicção maior dessa recuperação, e quanto mais rápido se comprovar, vão crescer as recomendações para a compra de empresas de commodities.
No caso da Petrobras, o desempenho do setor de petróleo tem sido muito forte e a empresa está ficando para trás. Chega uma hora em que o investidor começa a vender outras empresas de petróleo para comprar aquelas que ficaram para trás.

Como esse cenário de mais inflação está influenciando a percepção dos senhores para o mercado de ações?
De uns três meses para cá, começamos a colocar na nossa carteira ações de empresas que oferecem proteção contra a inflação. Os dados de inflação têm surpreendido, as projeções foram revisadas para cima. Há uma grande preocupação. Acho que cada vez mais os investidores colocarão na carteira papéis que protejam contra a inflação. É o caso de empresas prestadoras de serviços públicos, como geradoras e distribuidoras de energia, que têm contrato reajustado pela inflação. Também entram na lista as concessionárias de pedágio e os setores de imóveis e de shopping centers.


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