São Paulo, quarta-feira, 28 de julho de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Bancos vão buscar dinheiro na Ásia

Japoneses ficam com metade da dívida de empresas brasileiras, que pagam juro acima das taxas no continente

Principais bancos brasileiros fizeram roadshow neste ano para vender opções de investimento na Ásia

TONI SCIARRETTA
DE SÃO PAULO

JANAINA LAGE
DO RIO

O Japão se tornou o país que mais compra títulos de dívida de empresas brasileiras no exterior, refletindo o aumento do interesse asiático por aplicações no Brasil. Os japoneses levaram US$ 5,7 bilhões dos US$ 10,9 bilhões vendidos no mundo.
Essas empresas pagam juros de 6% a 11% -taxas impensáveis para países com juros de 0,1% (Japão), 2,25% (Coreia do Sul), 5,31% (China) e 4,5% (Austrália).
O crescimento do interesse asiático ocorre após vários roadshows de bancos brasileiros pela Ásia. Neste ano, aportaram no continente executivos de Itaú, Bradesco, Banco do Brasil, BNDES e das unidades brasileiras do Citibank e do Santander.
Segundo Pedro Guerra, diretor do Citi Brasil, além da dívida privada os asiáticos buscam oportunidades em ações, fundos, títulos públicos e até empresas fechadas.
Na semana passada, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, foi ao Japão para assinar um memorando de entendimento para ampliar a parceria com o JOI, entidade que busca promover investimentos em outros países.
O último levantamento do JOI põe o Brasil em sexto lugar como destino de investimentos. Quando se excluem os vizinhos asiáticos, o Brasil fica em primeiro, à frente dos EUA e dos europeus.
Em abril, o Itaú abriu uma gestora de recursos em Tóquio, em que administra US$ 14 bilhões em fundos focados no Brasil -até 2008, eram US$ 500 milhões.
O Bradesco vai abrir um escritório ainda neste ano no Japão, onde tem parceria com o Mitsubishi para gestão de US$ 1,7 bilhão em fundos.

FUSO HORÁRIO
"O mercado asiático tem muita complementaridade com o brasileiro. Temos um dos juros mais altos, e eles, um dos mais negativos. A poupança deles é muito alta, e a nossa, baixa. Eles têm uma maturidade grande na infraestrutura e a nossa está engatinhando. Japão e Coreia do Sul têm uma população velha, e nós somos um país jovem. Até o horário é complementar, mas isso atrapalha...", disse Pedro Bastos, diretor da Anbima.
Até 2004, nas emissões de títulos do governo no exterior, a participação dos asiáticos não passava de 3%. Foi quando o então secretário do Tesouro, Joaquim Levy, decidiu iniciar os leilões à meia-noite e a demanda foi a 30%.
"Foi um sucesso. O asiático pegava o fim de feira. Não dá para exigir que o operador fique trabalhando de madrugada", disse Levy, hoje na gestora do Bradesco.
"Precisamos de uma infraestrutura para atender esse investidor. Não adianta vender se não tiver alguém aqui, durante a madrugada, para atender um telefonema. A Ásia está borbulhando... Esse investidor reconhece que pode aplicar com sossego no Brasil", disse Pedro Guerra, do Citibank.
O Ministério do Desenvolvimento programou para amanhã um seminário em Osaka (Japão), para "vender" oportunidades no país.
Segundo Eduardo Celino, da pasta, o Japão retomou o patamar da década de 1970 em importância nos investimentos no Brasil. Os fatores que ajudam a atrair a atenção dos asiáticos hoje, afirma, são as obras de infraestrutura, da Copa e da Olimpíada.


Texto Anterior: Cotações/Ontem
Próximo Texto: Empresários vão à China atrair investidores
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.