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ANÁLISE
Subsídio à energia nuclear revive um projeto do passado
MARCELO LEITE
DE SÃO PAULO
A decisão do governo de
construir de 4 a 6 usinas termelétricas atômicas tem menos a ver com demanda de
energia elétrica do que com o
objetivo estratégico de dominar o ciclo tecnológico-industrial completo do combustível nuclear.
Desse ponto de vista, o
complexo de três usinas em
Angra dos Reis (RJ) seria insuficiente para obter a escala
necessária.
É um objetivo legítimo, por
mais que se discorde dele por
razões ambientais. A questão
é saber se existem condições
de fazê-lo sem onerar indevidamente o contribuinte.
Desse outro ângulo, o balão de ensaio da quebra do
monopólio estatal de construção e operação das usinas, lançado de forma discreta pelo Planalto, já alçou voo
meio murcho.
Os defensores da energia
termonuclear afirmam que
seu preço pode competir com
os de outras fontes, como os
de hidrelétricas, óleo combustível, gás natural, vento e
biomassa (bagaço de cana).
Calcula-se que ficaria em
torno de R$ 140 a R$ 150 o
megawatt-hora, dentro da
margem do que se obtém hoje em leilões de energia.
Seus adversários dizem
que esse cálculo é inconfiável. Ele pressupõe que a
construção das centrais nucleares duraria cerca de cinco anos, o que nunca aconteceu no Brasil. Angra 3 começou a ser construída em 1984
e foi paralisada dois anos depois. A previsão é que opere
em 2014.
Esse tipo de atraso, com
óbvio impacto financeiro,
acaba não sendo computado
no preço da energia.
Segundo os críticos, o custo de construção de instalações definitivas para deposição de rejeitos radiativos
-com projeto e local ainda
sem definição- também acaba fora das contas.
Com tais incertezas, compreende-se por que o Planalto cogitaria a exclusão da
energia termonuclear dos leilões usuais do setor elétrico.
Comprando eletricidade
ao preço fixo do operador nuclear, compulsoriamente, o
consumidor elimina um risco
importante do empreendimento e torna a sua rentabilidade mais previsível. É uma
forma de subsídio.
Subsídio por subsídio, haveria mais razões estratégicas para encorpar os incentivos às fontes alternativas.
O mundo todo busca modalidades de geração que
não emitam gases do efeito
estufa, como os produzidos
por termelétricas a óleo e gás.
O consumo de combustível nuclear não gera gases-estufa, é verdade, mas o urânio existe em quantidade limitada e pode ser empregado para fins militares.
Ventos e bagaço de cana
são produzidos de forma renovável e não produzem resíduos tão problemáticos. Por
outro lado, não exigem obras
tão caras e vistosas quanto a
da central de Angra.
Se Portugal, que não tem
bagaço de cana, escolheu o
caminho dos ventos, por que
o Brasil deveria subsidiar
uma fonte de energia controversa como a nuclear? É um
projeto do passado, acalentado pelo governo militar. O
futuro pode ser outro.
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