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ANÁLISE PREÇOS
Mercado de commodities no Brasil não tem vida própria
GERALDO BARROS
ESPECIAL PARA A FOLHA
Alguns traders dos países
produtores de commodities,
como o Brasil, gostam de se
ver como capazes de influenciar os preços nos mercados
nacionais, minimizando a influência do mercado mundial, como se o mercado interno tivesse vida própria, independente. Trata-se de autoengano em larga medida.
No mercado externo, os
preços das commodities seguem tendências parecidas
demais para serem obra do
acaso. Exceto em ocasiões
excepcionais, alimentos (de
origem vegetal e animal), minérios e metais seguem caminhos que, apesar de sinuosos, são semelhantes.
Isso sinaliza a influência
de macrofatores como a evolução da tecnologia, eventos
climáticos, mudanças nas estruturas dos mercados, políticas e crescimento econômico, liquidez e juros, tendências nos mercados cambiais e
na percepção de risco.
Todos esses fatores são
precificados -com base em
expectativas- nas principais
Bolsas de futuros, nas quais
atuam "hedgers" e especuladores do mundo todo.
Nesse panorama, resta escassa possibilidade para que
agentes de países individuais
-mesmo grandes importadores ou exportadores- possam afetar as tendências
emanadas desses mercados
centrais.
Pelo menos são essas as
conclusões de estudos feitos
no Cepea/Esalq-USP.
Estudo do mercado do
açúcar mostrou que o preço
do mercado interno é fortemente determinado pelo preço internacional, o qual, convertido pela taxa corrente de
câmbio, permite prever o primeiro com precisão de 10%
em 75% dos casos.
Ou seja, escolhendo aleatoriamente cem cotações
mensais, por exemplo, do
açúcar no mercado interno,
75% delas diferirão no máximo em 10% do preço internacional daquele mês.
Ademais, os erros de previsão dos modelos utilizados
são completamente aleatórios, não denotando influência importante de traders locais. Com 20% de precisão,
se pode prever o preço interno do açúcar em 100% dos
casos, significando que todas as cotações internas estarão num intervalo de 20% ao
redor do preço internacional.
A influência do preço internacional do açúcar é também marcante sobre o mercado interno do etanol, que,
da mesma forma, pode ser
previsto com 20% de precisão em 82% dos casos.
Isso mostra que o mercado
do açúcar mantém significativa influência sobre o mercado do combustível.
A razão principal para a
menor previsibilidade dos
preços do etanol relaciona-se
às dificuldades de estocagem
e limitação de capital de giro,
que, muitas vezes, forçam a
venda para obter caixa.
A venda excessiva num
momento significará escassez num posterior e preços
mais altos do que os sugeridos pelo mercado externo.
Sanados esses problemas,
o mercado de etanol poderá
se tornar mais transparente e
previsível.
GERALDO BARROS é professor titular da
USP/Esalq e coordenador científico do
Cepea/Esalq/USP.
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