São Paulo, terça-feira, 28 de setembro de 2010

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BENJAMIN STEINBRUCH

Ética e conciliação


O voto consciente é uma recomendação séria; é dever do eleitor conhecer a trajetória do candidato

ESTAMOS A cinco dias das eleições e é curioso observar como o cenário atual é semelhante ao de quatro anos atrás, quando Lula foi reeleito.
Em 2006, o pleito se deu depois de um período de grande conturbação política e denúncias que agravaram esse quadro às vésperas da votação. Agora, o processo eleitoral foi igualmente conturbado por denúncias sucessivas, que culminaram em demissões no governo e, infelizmente, acabaram por desviar o foco das discussões dos programas de cada candidato. As acusações de parte a parte, em um determinado momento, promoveram um verdadeiro festival de agressões.
Nesse contexto, no momento em que 136 milhões de brasileiros se preparam para votar -10 milhões a mais do que em 2006-, duas palavras vêm à mente e gostaria de basear nelas este artigo: ética e conciliação.
Num país tão grande como o Brasil, com quase 5.600 municípios, muitos dominados por caciques políticos, é comum que os eleitores sejam assediados para votar em candidatos que oferecem pequenos favores, para dizer o mínimo.
A troca do voto por benefícios não é só antiética, é criminosa. O voto consciente, portanto, essa expressão batida, é uma recomendação séria, que não pode ser esquecida.
Na prática, ela significa que o eleitor jamais deve votar em um candidato sem conhecer sua trajetória.
Quase 70% dos eleitores ainda não têm candidato para deputado estadual e federal, por exemplo, e são presas fáceis para assediadores. Para quem tem acesso à internet, é possível fazer uma pesquisa sobre um nome, embora as informações que circulam na rede precisem de filtro. Para a maioria da população, que não tem esse acesso, é difícil saber quem é aquele candidato que está pedindo o voto, principalmente se ele não é da região em que mora o eleitor. Nesses casos, uma saída é o eleitor procurar aconselhamento com pessoas que respeita.
Festivais de agressões de períodos eleitorais, em geral, deixam perniciosas sequelas. Terminada a eleição e empossado o novo governo, os perdedores ficam magoados e emburrados. Os ganhadores, se não tiverem juízo, partem para retaliações.
A reconstrução das pontes, por meio de uma atitude conciliadora, cuja iniciativa deve caber aos vencedores, sem ressentimentos, é o caminho para dar continuidade ao enorme avanço que o país teve nos últimos quatro governos.
Aquilo que deu certo precisa ser mantido e ampliado. A estabilidade é uma conquista importantíssima. O fortalecimento do mercado interno, que está na base do sucesso brasileiro no enfrentamento da crise global, deve continuar, a despeito da gritaria ortodoxa de grupos que defendem a contenção da demanda. A oferta de crédito para investimento e para consumo também exige cuidado especial, porque vem sendo um dos pilares do crescimento recente, baseado no mercado interno.
No auge da crise, um dos melhores momentos do governo foi quando o presidente instigou os consumidores a continuar comprando e exigiu que o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal mantivessem a oferta de crédito para compensar a retração dos bancos privados.
Outros avanços a preservar são o fim do constrangimento externo, que volta e meia obrigava o país a estender o chapéu ao FMI, e a incorporação de grandes camadas da população ao consumo por meio de políticas sociais.
A consolidação dessas conquistas e a caminhada na direção de outras -política cambial e monetária mais ajustada às necessidades do país, investimentos públicos em infraestrutura e redução da carga tributária- dependerão do discernimento e do espírito patriótico de ganhadores e de perdedores e isso vale para os governos estaduais.
Ganhe quem ganhar, todas as forças políticas sérias terão a obrigação de trabalhar a favor do país, levando sempre em conta que o objetivo essencial deve ser a busca da continuidade do crescimento econômico, da criação de empregos e, consequentemente, da melhoria das condições de vida de todos os brasileiros. Bom voto a todos.


BENJAMIN STEINBRUCH, 56, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp. Escreve às terças, a cada 15 dias, nesta coluna.

bvictoria@psi.com.br

AMANHÃ EM MERCADO:
Alexandre Schwartsman


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