São Paulo, domingo, 28 de novembro de 2010

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ANÁLISE

Setor produtivo tem pleno emprego e desindustrialização

ROBSON GONÇALVES
ESPECIAL PARA A FOLHA

Parece contraditório falar de pleno emprego e desindustrialização. Mas as duas palavras resumem o quadro atual do setor produtivo.
O lado bom é que a maior parte dos desempregados ou estão em trânsito entre um emprego e outro ou avaliam alternativas de trabalho.
Por outro lado, os empresários estão reportando níveis elevados de utilização da capacidade instalada. Isso não significa que o nível de ociosidade seja zero.
Afinal, alguma ociosidade é sempre necessária, seja por precaução, seja por necessidade de manutenção de equipamentos. Pleno emprego significa níveis mínimos de desemprego e de ociosidade, situação rara no mundo. Ocorre que o quadro esconde fatos indesejáveis.
De um lado, a escassez de mão de obra qualificada.
Muitas empresas estão contratando pessoas sem experiência ou sem estudo para treiná-las por conta e risco.

DESCOMPASSO
Ao mesmo tempo, muitas empresas estão chegando ao limite da capacidade instalada devido ao descompasso entre demanda e oferta.
Isso porque o investimento produtivo tem ficado sistematicamente abaixo do necessário para sustentar o crescimento das vendas.
Esse não é um problema casual e não afeta todos os setores da mesma forma.
Com o câmbio muito baixo, a concorrência internacional está se tornando insuportável em alguns setores. A isso se soma nossa taxa de juros de dois dígitos que ao mesmo tempo atrai capitais especulativos, fazendo o câmbio cair ainda mais, e inibe o investimento produtivo.
O resultado é que os segmentos que mais sofrem a concorrência estrangeira se veem diante de um grave viés anti-investimento. É o caso, sobretudo, dos chamados bens intermediários.
Bons exemplos são autopeças e alguns materiais da construção civil. Por conta desse movimento, nossas cadeias produtivas estão se tornando "ocas", fragilizadas em seus elos intermediários.
Produzimos automóveis e edifícios em larga escala, montadoras e construtoras atingem a plena capacidade, mas o conteúdo importado de sua produção é crescente.
Importamos componentes e exportamos empregos.


ROBSON GONÇALVES é professor da Fundação Getulio Vargas


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