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ANÁLISE
Setor produtivo tem pleno emprego e desindustrialização
ROBSON GONÇALVES
ESPECIAL PARA A FOLHA
Parece contraditório falar
de pleno emprego e desindustrialização. Mas as duas
palavras resumem o quadro
atual do setor produtivo.
O lado bom é que a maior
parte dos desempregados ou
estão em trânsito entre um
emprego e outro ou avaliam
alternativas de trabalho.
Por outro lado, os empresários estão reportando níveis elevados de utilização
da capacidade instalada. Isso não significa que o nível
de ociosidade seja zero.
Afinal, alguma ociosidade
é sempre necessária, seja por
precaução, seja por necessidade de manutenção de
equipamentos. Pleno emprego significa níveis mínimos
de desemprego e de ociosidade, situação rara no mundo.
Ocorre que o quadro esconde fatos indesejáveis.
De um lado, a escassez de
mão de obra qualificada.
Muitas empresas estão contratando pessoas sem experiência ou sem estudo para
treiná-las por conta e risco.
DESCOMPASSO
Ao mesmo tempo, muitas
empresas estão chegando ao
limite da capacidade instalada devido ao descompasso
entre demanda e oferta.
Isso porque o investimento produtivo tem ficado sistematicamente abaixo do necessário para sustentar o
crescimento das vendas.
Esse não é um problema
casual e não afeta todos os
setores da mesma forma.
Com o câmbio muito baixo, a concorrência internacional está se tornando insuportável em alguns setores.
A isso se soma nossa taxa
de juros de dois dígitos que
ao mesmo tempo atrai capitais especulativos, fazendo o
câmbio cair ainda mais, e inibe o investimento produtivo.
O resultado é que os segmentos que mais sofrem a
concorrência estrangeira se
veem diante de um grave viés
anti-investimento. É o caso,
sobretudo, dos chamados
bens intermediários.
Bons exemplos são autopeças e alguns materiais da
construção civil. Por conta
desse movimento, nossas cadeias produtivas estão se tornando "ocas", fragilizadas
em seus elos intermediários.
Produzimos automóveis e
edifícios em larga escala,
montadoras e construtoras
atingem a plena capacidade,
mas o conteúdo importado
de sua produção é crescente.
Importamos componentes e
exportamos empregos.
ROBSON GONÇALVES é professor da
Fundação Getulio Vargas
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