São Paulo, sábado, 29 de janeiro de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Operação da Caixa ajudou governo a cumprir meta fiscal do Tesouro

Depósito judicial de R$ 4 bi, feito pela estatal em dezembro, foi contabilizado como receita

Caixa diz que depósito é resposta à contestação, na Justiça, de cobrança de tributos realizada pela Receita Federal

Elza Fiuza/Agência Brasil
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, durante entrevista; ele ironizou as críticas do FMI sobre a política fiscal do país

GUSTAVO PATU
LEONARDO SOUZA
MÁRIO SÉRGIO LIMA
DE BRASÍLIA

Uma operação realizada em dezembro pela Caixa Econômica Federal foi contabilizada como receita pelo governo e permitiu, de última hora, o cumprimento formal da meta fiscal estabelecida para o Tesouro Nacional no ano de 2010.
O banco estatal fez um depósito judicial -ou seja, separou recursos para o eventual pagamento futuro de tributos questionados na Justiça- no valor de R$ 4 bilhões -de longe, a maior operação do gênero em todo o país durante o ano passado.
Segundo a assessoria da CEF, o depósito foi realizado porque a instituição decidiu contestar em juízo a cobrança do tributo realizada pela Receita Federal. "O procedimento judicial prevê a garantia do juízo para a suspensão da exigibilidade do crédito e consequente emissão da Certidão Negativa de Débitos Fiscais (CND), documento essencial para a continuidade dos negócios da Caixa", informou a instituição.
Segundo uma regra consolidada pela administração petista, todos os depósitos judiciais devem ser feitos na CEF e transferidos para a conta do Tesouro, para engordar a arrecadação federal. A Caixa, portanto, fez o depósito em seu próprio caixa.
Os recursos se referem a pendências no pagamento da contribuição ao PIS/Pasep, um tributo incidente sobre o faturamento cujos recursos são direcionados, entre outras finalidades, ao pagamento do seguro-desemprego. A operação da CEF fez explodir a arrecadação do PIS/Pasep, que não chega aos R$ 3,5 bilhões mensais.
Isso permitiu ao governo central (Tesouro, Banco Central e Previdência Social) economizar o equivalente a R$ 14,4 bilhões no mês passado, elevando o esforço fiscal do ano para R$ 79 bilhões -quase R$ 3 bilhões acima da meta.
Além do depósito judicial, também contribui para o resultado do governo central uma manobra contábil que utilizou a capitalização da Petrobras para engordar os cofres do Tesouro em R$ 31,9 bilhões.
Em setembro, o governo cedeu R$ 74,8 bilhões em barris de petróleo para permitir o reforço de capital da estatal. E pagou à Petrobras o equivalente a R$ 42,9 bilhões, referentes à participação da União na operação. A diferença entrou como receita na contas do Tesouro Nacional.
O cumprimento da meta foi usado ontem pelo ministro Guido Mantega (Fazenda) para ironizar as críticas que o FMI havia feito no dia anterior em relatório a respeito da deterioração da política fiscal do governo brasileiro.
Para Mantega, o texto trazia "bobagens e equívocos" feitos provavelmente por "velhos ortodoxos" do Fundo à revelia da direção do FMI.
Mas, sem as receitas extraordinárias e manobras contábeis, o governo teria sido incapaz de obter o resultado primário, mesmo em ano de arrecadação federal de tributos recorde.
As despesas também foram elevadas, atingindo 19,14% do PIB (Produto Interno Bruto).
Contudo, se o governo central atingiu a meta, o setor público consolidado, que ainda engloba estatais, Estados e municípios, só será capaz de fazer o mesmo com o abatimento dos gastos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), segundo Mantega.
Para atingir a meta de economizar o equivalente a 3,1% do PIB, o governo pode abater os gastos com investimentos. O resultado das contas do setor público será divulgado na próxima segunda-feira pelo Banco Central.


Texto Anterior: Internacionais
Próximo Texto: Mantega ataca "bobagens" de relatório do FMI
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.