São Paulo, sábado, 29 de janeiro de 2011

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ROBERTO RODRIGUES

Ainda melhores expectativas!


Não descartam o uso de tecnologias mais recentes, como transgenia, clonagem e nanotecnologia

O GOVERNO DO Reino Unido acaba de divulgar um trabalho de grande fôlego analisando o cenário mundial da produção de alimentos nos próximos 20 anos. O estudo consumiu dois anos e envolveu 400 especialistas de 35 países e se chama "Foresight report on food and farming futures" (em tradução livre, significa: Prognóstico sobre o futuro da alimentação e da agricultura).
A publicação replica e consolida relatório similar apresentado pela OCDE/FAO (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico/Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação) publicado há pouco mais de três meses.
O estudo OCDE/FAO olha um prazo menor e aponta a necessidade de aumentar em 20% a produção de alimentos em dez anos, considerando basicamente um crescimento de demanda nos países emergentes.
O trabalho enfatiza que, para o mundo ofertar mais 20% de alimentos em dez anos, o Brasil precisa ofertar o dobro, isto é, 40%.
O novo trabalho do Reino Unido vai além no tempo -20 anos- e aponta as condições para atingir o crescimento de 40% da oferta de alimentos no período! Em outras palavras, dobra o período, dobra a demanda e dobra a necessidade de produção.
O relatório também enfatiza a importância das tecnologias que deverão ser desenvolvidas para que haja mudanças na agricultura capazes de permitir esse aumento demandado e, ao mesmo tempo, preservar os recursos naturais e reduzir os riscos de aquecimento global. Nesse sentido, há temas muito interessantes, revertendo algumas ideias que vêm sendo repetidas sobre o assunto.
Os pesquisadores começam dizendo que não há uma ""solução única" para a compatibilização da maior produção com a sustentabilidade e não descartam o uso de tecnologias mais recentes, como a transgenia (nem sempre bem aceita), a clonagem e a nanotecnologia.
Recomendam ainda que governos e agricultores dos países onde a produção vai crescer prestem contas de suas políticas e progressos a toda a população do planeta, seja na redução da fome, seja na mitigação do aquecimento global.
Ainda mais forte, os especialistas admitem que o aumento da produção se dê até com a derrubada de florestas, afirmando que isso ""não precisa afetar negativamente o bem-estar da sociedade". O estudo reconhece que a maior parte desse crescimento produtivo, especialmente no Brasil, se dará muito mais com a expansão da agricultura sobre áreas hoje ocupadas com pastagens, o que implica evidentemente avanços técnicos na pecuária.
Mas, no capítulo florestal, o estudo defende políticas apropriadas para assegurar o "'bom desflorestamento", ressaltando a necessidade de promover o uso correto da terra, o que nem sempre significa preservar qualquer pedaço do ecossistema da floresta sem considerar seu nível de uso ou tamanho.
Os pesquisadores também descartam a concorrência entre a produção de alimentos e a agroener- gia no Brasil, que já foi uma tese insistentemente defendida pelos adversários dos biocombustíveis e da bioeletricidade.
O relatório considera como muito positivas as políticas sociais que o Brasil adotou recentemente e deixa um claro alerta: "A experiência brasileira nos últimos dez anos mostra que, se há vontade política, a pobreza e a fome podem ser diminuídas substancialmente".
Esse é um ponto fundamental.
Terá o Brasil vontade política de implementar os instrumentos indispensáveis para se transformar nesse gigantesco general contra a fome que o mundo necessita e espera? Afinal, dois estudos sérios e de diferentes instituições apontam para o mesmo destino: crescer agricolamente!
Nesta semana, Angel Gurría, secretário-geral da OCDE, exortou os países agrícolas a investir na produção rural, dizendo que, se isso não acontecer, estará em risco a própria expansão da economia global.
Não podemos tratar essa visão mundial com pouco-caso. E, se cuidarmos de atendê-la, iremos desenvolver espetacularmente a economia nacional.


ROBERTO RODRIGUES, 67, coordenador do Centro de Agronegócio da FGV, presidente do Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp e professor do Depto. de Economia Rural da Unesp - Jaboticabal, foi ministro da Agricultura (governo Lula). Escreve aos sábados, a cada 15 dias, nesta coluna.

rr.ceres@uol.com.br


AMANHÃ EM MERCADO:
Fábio Barbosa


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