São Paulo, sábado, 29 de janeiro de 2011

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Japão perde jovens talentos para vizinhos

Com sistema que protege os mais velhos, profissionais em início de carreira têm poucas oportunidades no país

Japão está impedindo o avanço de seus jovens em momento no qual tem necessidade de inovar para crescer

MARTIN FACKLER
DO "NEW YORK TIMES"

Kenichi Horie tinha uma carreira promissora como engenheiro automobilístico e era a espécie de jovem talento de que o Japão necessita para manter sua vantagem diante dos famintos rivais sul-coreanos e chineses.
Com pouco mais de 30 anos, como funcionário de uma das grandes montadoras de automóveis, ele conquistou elogios pelo trabalho de projeto em sistemas avançados de biocombustíveis.
Mas, como muitos dos japoneses mais jovens, ele era um dos chamados trabalhadores irregulares, empregados por meio de contratos temporários, desprovidos de segurança no emprego e com salários equivalentes à metade dos funcionários regulares, a maioria dos quais pessoas de idade próxima dos 50 anos ou ainda mais elevada.
Depois de uma década de esforço tentando se transformar em funcionário regular, Horie terminou por deixar não apenas o emprego temporário mas o Japão e mudou-se para Taiwan há dois anos para estudar chinês.
"As companhias japonesas estão desperdiçando as gerações mais jovens a fim de proteger os mais velhos", disse Horie, 36. "No Japão, fecharam as portas para mim. Em Taiwan, dizem que meu currículo é impecável." Porque está envelhecendo, o Japão, superpotência em declínio, precisa aumentar a produtividade e aproveitar a energia empreendedora de seu número cada vez menos de jovens.
Mas parece estar fazendo o contrário. Isso vem contribuindo para o baixo crescimento e para obrigações crescentes de aposentadoria, motivos para que a agência de classificação de crédito Standard & Poor's tenha rebaixado a classificação da dívida soberana japonesa.
O resultado é que o Japão está impedindo o avanço e marginalizando seus jovens em um momento no qual precisa deles para que ajudem a criar novos produtos, empresas e setores, dos quais a economia amadurecida necessita para crescer.
Os números do emprego enfatizam a situação desvantajosa dos jovens. As décadas de estagnação econômica no Japão resultaram em alta no número de empregos irregulares, e os jovens foram os mais prejudicados.
No ano passado, 45% das pessoas dos 15 aos 24 anos que integram a força de trabalho tinham empregos irregulares, ante 17,2% em 1988.

"ERA DO GELO"
A mídia japonesa vive repleta de relatos sobre a nova "era do gelo" que os universitários precisam enfrentar no mercado de trabalho; em outubro, apenas 56,7% dos formandos receberam ofertas de emprego, o pior resultado já registrado. Embora muitos países enfrentem o envelhecimento da população, a crise no Japão é particularmente severa, e projeções apontam que 40% da população do país terá mais de 65 anos em 2055.
Algumas das consequências foram previstas há muito, como por exemplo a deflação; à medida que mais japoneses se aposentem e passem a viver das economias, seus gastos se reduzirão, o que diminuirá o nível já anêmico de consumo no país.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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