São Paulo, terça-feira, 29 de junho de 2010

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Crédito subsidiado chega a 1/3 do total

Empréstimos com taxas controladas pelo governo, abaixo das de mercado, voltam a ganhar força após a crise

Para economistas, alta do crédito direcionado diminui a eficácia da política de juros do BC na economia

EDUARDO CUCOLO
DE BRASÍLIA

Os empréstimos com juros subsidiados, que não acompanham a variação da taxa básica fixada pelo Banco Central, já respondem por mais de um terço do crédito.
Desde 2004, o aumento do crédito vinha sendo puxado pelos empréstimos com recursos livres, a taxas de mercado. A tendência foi interrompida pela crise do final de 2008, quando o crédito direcionado voltou a ter força.
Esse crescimento vem sendo impulsionado pelos financiamentos imobiliários a pessoas físicas e pelos empréstimos do BNDES a empresas, que respondem por 80% desses recursos. Nos últimos 12 meses, essas duas modalidades tiveram alta de 50%, segundo dados do BC, mais que o dobro da média.
Para alguns economistas, a alta do crédito direcionado, que hoje soma R$ 499 bilhões, reflete a escassez de recursos para financiamentos de longo prazo e é um fator que reduz a eficácia da política de juros do BC para segurar o crescimento da economia.
Outros avaliam que esse último efeito não é significativo, pois a política monetária tem como objetivo frear o consumo, financiado com taxas de curto e médio prazo. Já o crédito direcionado serve a operações de longo prazo, como investimentos.
Neste ano, a taxa básica já subiu duas vezes, de 8,75% para 10,25% ao ano, e a expectativa é que possa chegar a 12% nos próximos meses. O objetivo do BC é tentar reduzir o ritmo de crescimento da economia, que avançou 9% no primeiro trimestre, e evitar que a inflação se afaste do centro da meta, de 4,5%.

TAXAS CONTROLADAS
O crédito direcionado tem como origem, principalmente, recursos dos trabalhadores e da caderneta de poupança. Por isso, sua destinação e taxas são controladas e ficam abaixo dos juros praticados no mercado.
O BNDES, por exemplo, utiliza como referência a TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo), que está em 6% ao ano desde julho de 2009.
Para Rubens Sardenberg, economista-chefe da Febraban (federação de bancos), o aumento na participação do crédito direcionado faz com que o ajuste na taxa básica de juros tenha de ser maior para segurar o avanço da economia, pois parcela grande dos empréstimos não é afetada pela variação da Selic.
Ele afirma, porém, que esse crédito preenche uma lacuna importante, criada pela falta de recursos para financiamentos de longo prazo.
Para o economista Robson Gonçalves, da FGV, o direcionado não reduz a eficácia da política monetária, já que esse crédito acaba sendo influenciado de forma indireta pela variação da Selic.


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