|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
OPINIÃO DESENVOLVIMENTO
Brasil precisa se esforçar mais para acompanhar outros Brics
MARTIN WOLF
DO "FINANCIAL TIMES"
O Brasil é o país do futuro e
sempre será -assim diz a velha piada. Será que enfim os
brasileiros rirão por último?
Será que o Brasil se tornou
o país do presente? A resposta é afirmativa, mas só até
certo ponto. O país continua
longe de se equiparar ao desempenho de Índia e China.
Deveria se sair muito melhor.
As grandes realizações do
Brasil nos últimos 15 anos se
referem à estabilidade -política e econômica. Sob as presidências de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e
Lula, o país conquistou a estabilidade democrática.
A era do governo militar,
encerrada em 1985, parece
distante. Sob o Plano Real, a
inflação foi por fim controlada. Depois de reduzir a inflação por meio de uma taxa de
câmbio quase fixa, o Banco
Central reduziu a taxa de juros de referência de 45% a
apenas 8,75% em 2009.
A estabilidade se escorou
no acúmulo de reservas cambiais, que chegaram a US$
235 bilhões em fevereiro de
2010, ante US$ 33 bilhões em
janeiro de 1999. Mas estabilidade não quer dizer dinamismo. O crescimento médio foi
de apenas 2,9% ao ano entre
1995 e 2009.
BRIC OU IC
As projeções do FMI para o
crescimento no período
2010-2013 apontam uma média anual de 4,5%, bem abaixo daquela de China e Índia.
O fracasso do Brasil na redução da desigualdade de
renda é igualmente importante. Na China, em 1980, a
renda per capita (com base
em paridade de poder de
compra) equivalia a apenas
7% da brasileira, enquanto a
indiana equivalia a 11%.
Entre 1995 e 2009, a elevação na renda brasileira foi de
apenas 22%, ante 100% na
Índia e 226% na China.
Como resultado, a parcela
brasileira na produção mundial caiu de 3,1% em 1995 para 2,9% em 2009. A China saltou de 5,7% para 12,5%, e a
Índia, de 3,2% para 5,1%.
O que vemos, assim, é a ascensão dos países IC, não dos
Brics. Será que o Brasil conseguirá se sair melhor? Para
isso, tem de superar imensas
desvantagens estruturais.
A mais importante é o nível extremamente baixo de
poupança. Em 2008, de acordo com o Banco Mundial, a
poupança bruta do país equivalia a apenas 17% do PIB,
ante os 38% da China e os incríveis 54% da Índia.
Além disso, 45% das exportações de mercadorias
brasileiras em 2008 envolviam produtos industrializados, ante 63% na Índia e 93%
na China: será difícil conquistar industrialização via
comércio interno.
O desafio, assim, parece
claro e difícil: passar da estabilidade para o crescimento.
O Brasil não tem condições de assumir papel mundial tão grande quanto o dos
dois gigantes asiáticos, mas
poderia conseguir algo mais
importante que poder e influência no mundo: uma sociedade próspera no país.
Muita coisa ainda precisa
mudar para que esse sonho
possa se tornar realidade.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
Texto Anterior: Pé no freio: Crescer mais de 5,5% é risco, diz Mantega Próximo Texto: Vinicius Torres Freire: Ainda o teatro do G20 Índice
|