São Paulo, sexta-feira, 29 de julho de 2011

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VINICIUS TORRES FREIRE

A guerra cambial de Mantega


Ministro da Fazenda explica quais medidas o governo pode tomar se o dólar continuar a "derreter"

COMO O GOVERNO vai reagir se o dólar voltar a se desmilinguir diante do real? "Temos instrumentos para tomar providências. As medidas sobre o mercado de derivativos nos permitem um amplo leque de ações", afirma à Folha o ministro da Fazenda, Guido Mantega.
Anteontem, o governo baixou grande intervenção no mercado de contratos futuros em moeda estrangeira. Criou imposto, pode definir volumes, prazos, garantias e tipos de contratos. Por quê? "Do modo como as coisas iam, o dólar iria logo baixar de R$ 1,50", diz Mantega.
Se o dólar continuar a "derreter", o governo pode elevar os depósitos de garantias para esses contratos, o que na prática encarece a operação. Em seguida, pode elevar o IOF sobre as transações. Essas são as próximas balas a entrar na agulha.
"Se abusarem, vamos continuar a tomar providências", diz.
"No caso dos investimentos em renda fixa, Bolsa etc., começamos o controle com uma alíquota baixa de IOF [o governo começou a taxar a entrada desses investimentos em 2009]. Elevamos [a alíquota do imposto] até considerar que havíamos conseguido nossos objetivos, que são tanto prudenciais, de evitar excessos, como o de evitar essa pressão de desvalorização do dólar", diz o ministro.
"No caso dos derivativos, podemos fazer a mesma coisa, aumentar a pressão aos poucos. Quando vimos o resultado da limitação da posição cambial vendida dos bancos, consideramos que era preciso fazer mais." O ministro se refere à restrição do tamanho do passivo em dólar no mercado à vista, medida adotada pelo Banco Central no dia 8 passado.
"Observamos diariamente os fluxos de investimento, o aumento das posições vendidas, o aumento da exposição. Chega uma hora, é preciso conter os exageros, em nome da prudência e do setor produtivo brasileiro, que está sofrendo muito com o dólar barato e práticas comerciais desleais."
Segundo Mantega, no início deste mês Fazenda e BC já haviam discutido com Dilma Rousseff a hipótese de uma intervenção no mercado de derivativos. Nos últimos dois meses, havia o rumor de que a presidente não aceitaria novas medidas que pudessem desvalorizar o real, pois isso dificultaria o combate à inflação, a sua prioridade.
Alguns investidores e economistas dizem que a intervenção no mercado de derivativos, que encarece tais operações, além da incerteza criada pelos novos poderes do governo, pode fazer com que os negócios migrem para mercados desregulados no exterior.
Para Mantega, o risco e o preço de fazer tais contratos lá fora não compensam o custo imposto pelas medidas baixadas pelo governo.
"O nosso mercado financeiro é sólido, bem regulado, amplo, líquido. Difícil acreditar em migração para o exterior."
Sobre as dificuldades técnicas de implementação da medida, outro problema que tem limitado os negócios cambiais desde quarta-feira, Mantega afirmou que "lamenta, mas não havia outro jeito. Não é possível discutir antecipadamente tais medidas com o mercado. Mas os procedimentos estão sendo ajustados e, na verdade, ouvimos pouquíssimas queixas sérias sobre a mudança".

vinit@uol.com.br


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