São Paulo, sexta-feira, 29 de outubro de 2010

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China deverá retomar exportações de minerais raros

Após bloquear embarques desde setembro, autoridades alfandegárias permitiram, sem explicação, a retomada

KEITH BRADSHER
DO "NEW YORK TIMES",
EM BAITOU, CHINA


O governo chinês encerrou abruptamente ontem o embargo não anunciado às exportações de minerais estratégicos cruciais a EUA, Europa e Japão, ainda que embarques a este último tenham enfrentado inspeções adicionais e alguns atrasos, reportaram executivos do setor.
Após bloquear embarques de minerais raros ao Japão desde 21 de setembro, e a EUA e Europa desde o último dia 18, autoridades alfandegárias chinesas permitiram, sem explicação, que os embarques fossem retomados.
A decisão surgiu um dia e meio depois que a secretária de Estado dos EUA, Hilary Clinton, anunciou planos de visitar a China amanhã. Ela se reuniu na quarta, em Honolulu, com autoridades japonesas e anunciou que a suspensão dos embarques havia sido "um sinal de alerta" e que ambos os países teriam de procurar fornecedores alternativos.
A China produz 95% dos minerais raros do mundo, essenciais em produtos de alta tecnologia. Já era meio-dia na China quando Hilary discursou, e os embarques já haviam sido retomados.
Importantes funcionários do Ministério do Comércio, que responde pela política de comércio externo do país, insistiram em que a organização não havia promulgado regulamentos que suspendessem os embarques. Sugeriram que a suspensão representava uma decisão espontânea ou simultânea dos 32 exportadores chineses, de não realizar os embarques devido à deterioração no relacionamento entre China e Japão, ou uma aplicação mais rigorosa das normas alfandegárias.
REDUÇÃO DE COTAS
Mesmo depois que os inspetores alfandegários começaram a permitir que os contêineres carregando minerais deixassem as docas chinesas, os compradores estrangeiros continuaram a enfrentar um segundo problema. A China vem reduzindo suas cotas de exportação de minerais raros nos últimos cinco anos, de modo que eles hoje ficam abaixo da demanda mundial.
Não restam mais que alguns milhares de toneladas a serem embarcadas sob a cota deste ano, de 30,3 mil toneladas de embarques autorizados. A demanda mundial por terras raras chinesas se aproxima de 50 mil toneladas anuais, de acordo com estimativas setoriais.
O neodímio, mineral usado para produzir ímãs poderosos e leves, essenciais a produtos como turbinas eólicas, carros híbridos e celulares (como o iPhone), está sendo vendido na China por US$ 40 mil a tonelada.
O preço é duas vezes mais alto fora do país, devido às restrições de exportação, de acordo com números do Metal Pages, um serviço de banco de dados em Londres.
A suspensão das exportações pela China causou muito mais incômodo no Japão, e não apenas porque os embarques ao país foram suspensos mais cedo. A China só impõe cotas de exportação a embarques nos quais o teor de minerais raros seja superior a 50%. E o Japão é o maior importador de minerais raros brutos (o país tende a produzir materiais industriais em seu território).
A suspensão nos embarques -tomada após o Japão deter o capitão de um pesqueiro chinês que colidiu com lanchas de patrulha japonesas, perto de ilhas disputadas entre os dois países- teve certos benefícios geopolíticos para a China.
No entanto, a disposição chinesa de jogar duro economicamente pode ter efeitos adversos em longo prazo, caso leve as multinacionais a reduzir sua dependência quanto à produção na China e a distribuir seus investimentos entre mais países.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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