São Paulo, sexta-feira, 29 de outubro de 2010

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RODOLFO LANDIM

É tempo de pescaria


Debate sobre pré-sal levou à suspensão do processo de leilões, nascente do rio caudaloso de investimento


CONTÍNUAS E EXCELENTES notícias vêm sendo divulgadas, principalmente no último mês, a respeito de capitalizações em empresas petroleiras no Brasil. Elas são fundamentais para aumentar a capacidade de investimentos no setor de exploração e produção (E&P).
Os movimentos são de diferentes naturezas, mas no fundo demonstram claramente o interesse que o Brasil vem despertando e a oportunidade que se abre para um novo ciclo de investimentos.
A mais importante de todas foi, sem dúvida, a capitalização da Petrobras, em que cerca de US$ 26 bilhões foram aportados pelos sócios minoritários, algo essencial para permitir que a estatal continue com o forte programa de investimentos sem aumentar sua alavancagem.
No entanto, outras significativas iniciativas vêm ocorrendo ou estão previstas para ocorrer em breve.
A mais recente foi a abertura de capital (IPO) na Bovespa da empresa HRT, que conseguiu levantar R$ 2,6 bilhões no mercado de capitais, tornando-se a terceira empresa de petróleo de capital aberto no país.
Mas não para por aí. A espanhola Repsol vendeu há cerca de um mês ao grupo chinês Sinopec 40% de suas operações brasileiras por US$ 7,1 bilhões, numa operação que envolveu inclusive os campos de Guará e Carioca, no pré-sal do bloco BMS-09, onde ela detém 25% de participação.
Já a Karoon, que tem participação integral em cinco blocos e de 20% em mais três blocos, todos na bacia de Santos, planeja abrir seu capital até 12 de novembro, pretendendo levantar até R$ 1,78 bilhão.
Foi também criada a Barra Energia, empresa controlada pelo fundo americano First Reserve, com recursos previstos de US$ 500 milhões a serem investidos em E&P, a grande maioria no Brasil. E a lista continua.
Os motivos são diversos. Passam por uma visão positiva do Brasil, fruto da estabilidade econômica e jurídica e das altas taxas de crescimento previstas, e pela percepção do alto retorno esperado para os investimentos -fruto principalmente do elevado índice de sucesso que a atividade exploratória obtém no país.
Some-se a isso a percepção dos investidores de que a economia na Europa e na América do Norte ainda passará por dificuldades por um longo período, o que faz com que busquem uma maior alocação de seu capital em outras regiões do planeta. Há também aqueles que buscam, acima de tudo, garantias físicas de suprimento para atendimento à demanda de petróleo de seus países de origem.
Nas empresas petroleiras, todo o processo de criação de valor começa pela atividade de exploração, que só se inicia a partir da obtenção de concessões através de leilões.
No Brasil, com as descobertas do pré-sal, iniciou-se um longo debate a respeito da necessidade de um novo marco regulatório específico para a área de ocorrência do pré-sal, que acabou implicando a suspensão de um processo vitorioso que vinha ocorrendo sistematicamente por dez anos e que foi a nascente, há vários anos, de todo esse rio caudaloso de investimentos que hoje se materializa. Este será o segundo ano consecutivo sem leilões.
No momento da outorga das concessões de exploração às companhias, ocorrido logo após os leilões, a União recebe, a título de bônus de assinatura, valores elevados que as companhias pagam pelo direito de explorar. Esses valores crescem na mesma proporção do interesse despertado pelo leilão.
Além disso, ao receberem a concessão dos blocos, as companhias ficam "fisgadas" porque se obrigam a fazer pesados investimentos a longo prazo. Portanto, quanto mais aquecido o mercado no momento dos leilões, melhor para o país.
Vivemos um momento mágico em que tudo parece convergir apontando o Brasil como um destino bastante promissor para os investimentos na indústria do petróleo. No entanto, a história mostra que as percepções muitas vezes mudam rapidamente a partir de fatores externos que fogem ao controle de todos.
A boa pescaria acontece quando existe muito peixe querendo morder a isca. E o bom pescador não perde uma boa oportunidade porque sabe que os cardumes não costumam ficar parados no mesmo lugar por muito tempo.


RODOLFO LANDIM, 53, engenheiro civil e de petróleo, é conselheiro da Wellstream. Trabalhou na Petrobras, onde, entre outras funções, foi diretor-gerente de exploração e produção e presidente da Petrobras Distribuidora. Escreve quinzenalmente, às sextas-feiras, nesta coluna.


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