São Paulo, sábado, 29 de outubro de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

ANÁLISE

Com IPI maior, vantagem é do Tesouro, não do consumidor


O AUMENTO DO IPI PARA OS VEÍCULOS IMPORTADOS SÓ RESULTARÁ EM MAIS TRIBUTOS E NENHUMA VANTAGEM PARA OS CONSUMIDORES

LUIZ CARLOS MELLO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Passado um mês da medida de aumento do IPI visando desestimular a "invasão" de veículos importados, três fatos marcaram o período.
O primeiro foi a decisão do STF, amplamente previsível, bastando apenas que alguém arguisse a inconstitucionalidade da medida.
O segundo foi a sequência de anúncios de confirmação de instalação de novas fábricas e até de uma nova a partir de tradicional montadora local, movimentos esses, em se tratando de multinacionais automotivas, já muito antes decididos.
O terceiro foi a normalidade das vendas de carros, que, neste mês, devem registrar até mesmo ligeiro crescimento ante setembro.
Assumido como certeza de que as montadoras locais satisfarão, sem nenhuma dificuldade, o mínimo de condicionantes que as farão elegíveis ao "velho IPI", resta apenas saber que tipo de munição serão dotados os importados considerados genuínos para contrabalançar ou mesmo anular o arsenal de medidas que lhes quer inibir o temido ímpeto invasor.
De pronto, se apresentam, para os originários da China e da Coreia, duas armas de eficácia inquestionável:
1) redução da margem com que aqui trabalha a grande maioria dos empresários representantes oficiais das marcas, não apenas na condição de importadores exclusivos que são, mas, também, como concessionários, uma vez que, com exceção de um, todos são ao mesmo tempo proprietários da rede de representação;
2) alguma redução nos orçamentos em marketing publicitário, cuja estimativa, segundo dados divulgados pela mídia, pode-se se calcular como algo próximo de R$ 12 mil por unidade vendida.
Some-se mais uma arma: a capacidade dos exportadores orientais de "engenheirar" reduções de custo nos produtos que nos enviam.
Por fim, os ameaçados importadores passam a contar com um marketing de divulgação, em penetração e frequência, que nem seus mais ousados sonhos o conceberiam: a ação dos nossos zelosos reguladores de chamar a atenção a respeito de quanto são capazes esses novos invasores da pátria.
Assim, é perfeitamente plausível estimar que da estratégia militar adotada pela autoridade reguladora resultem apenas mais recursos para o Tesouro, reafirmação do poder influenciador das montadoras aqui operando, chegada de novos entrantes coreanos e chineses e nenhuma vantagem para o consumidor em termos de acessibilidade econômica ao veículo. Ou seja, nada mudou.

LUIZ CARLOS MELLO é diretor do CEA (Centro de Estudos Automotivos) e ex-presidente da Ford Brasil.


Texto Anterior: Norte e Nordeste vão ter mais lojas da Chery
Próximo Texto: Shopping será aberto perto do Itaquerão
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.