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Boom de crédito aumenta o valor de imóvel até em beira de estrada
Preço do m˛ chega a R$ 5.000 em Salvador; renda no Nordeste cresce 7,5% ao ano, ante 5,3% no país
Especialista afirma que
falta de infraestrutura longe dos centros, onde há terrenos disponíveis, puxa preços para cima
DO ENVIADO AO NORDESTE
O boom de negócios e do
crédito imobiliário no Nordeste está levando a um rápido aumento nos preços de
terrenos e imóveis na região,
além de uma saturação da infraestrutura disponível.
A maior construtora do interior da Bahia, a R.Carvalho,
sediada em Feira de Santana
(107 km de Salvador), cresce
100% ao ano e levanta hoje
7.091 unidades, 75% delas
voltadas à baixa renda.
No Nordeste, a renda per
capita cresce hoje a um ritmo
de quase 7,5% ao ano, ante
5,3% na média do país. Entre
os mais pobres na região, o
avanço é de 15%.
De acordo com José Luiz
Souza, diretor da R.Carvalho,
enquanto o metro quadrado
de imóveis de baixo padrão
chega a R$ 1.400, o valor ultrapassa R$ 3.400 para os de
melhor qualidade.
Caso de um imóvel comprado em condomínio fechado à beira da BR-116, em Feira de Santana, por Tatiana
Coutinho. Ela está pagando
financiados R$ 152 mil por
uma casa de 46 m˛ no local.
Quando a Folha visitou
Tatiana, ela tomava informações via conferência em vídeo por computador para investir em um novo edifício erguido pela OAS em Salvador,
o Manhattan. Preço, também
financiado: entre R$ 4.500 e
R$ 5.000 o m˛.
Questionada se já ouvira
falar na chamada "bolha
imobiliária" que estourou
nos EUA em 2007, após uma
farra de crédito direcionada
ao setor no país, Tatiana respondeu negativamente.
Segundo Tatiana, ela e o
marido, que é funcionário
público, querem investir em
imóveis, pois veem boas
chances de valorização.
EXPLOSÃO
Entre 2004 e 2009, o total
do crédito imobiliário no país
disponível via poupança e
FGTS para a compra de imóveis saltou de R$ 6,3 bilhões
para R$ 48 bilhões (662%)
Para Ana Maria Castelo, da
FGV Projetos (que dá consultoria ao SindusCon-SP), o
forte aumento nos preços no
setor imobiliário decorre da
grande demanda por moradia reprimida por décadas.
"Ao contrário do que se
deu nos EUA, onde as pessoas compravam imóveis a
crédito para investir ou refinanciavam moradias para
consumir, aqui o objetivo
principal é morar", afirma.
Mesmo assim, ela reconhece que os preços "sobem
muito rapidamente".
"O problema no Brasil é a
infraestrutura. Para aumentar a oferta [e conter preços],
as periferias das cidades, onde ainda há terrenos disponíveis, deveriam contar com
melhor acesso e mais transporte público", diz.
Ao sul de Feira de Santana, em trecho da BR-116 que
está sendo duplicado, por
exemplo, há uma série de novos empreendimentos imobiliários em cidadezinhas.
Em Milagres (241 km de
Salvador), mais de três centenas de casas foram erguidas
nos últimos dois anos.
O resultado é que a BR-116
vem ficando saturada. Mesmo sua duplicação é vista
com ceticismo, já que a estrada é dominada pelo transporte de cargas, que o rápido
desenvolvimento da região
só faz aumentar.
(FERNANDO CANZIAN)
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