São Paulo, quinta-feira, 30 de junho de 2011

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ANÁLISE PREÇOS

Alta no custo pode desestimular maior produção de alimentos

JOSÉ VICENTE FERRAZ
ESPECIAL PARA A FOLHA

Um relatório intitulado "Perspectivas para a Agricultura 2001-2010", divulgado no dia 17 deste mês, veio confirmar o papel relevante que o Brasil terá como provedor de alimentos para o mundo.
Elaborado pela OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) e pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação), o relatório lança perspectivas altamente preocupantes para os extratos mais pobres da população mundial.
De modo geral, o relatório confirma algumas tendências para a próxima década já detectadas nos últimos anos, como a continuidade dos ganhos de produtividade, porém a taxas menores que as atuais.
Isso ocorrerá porque as poucas áreas que ainda podem ser incorporadas à produção possuem potencial produtivo menor e também porque os ganhos de produtividade ficam relativamente mais difíceis a partir de certos níveis.
O relatório também prevê aumentos da pressão de consumo por uma parte da população que passa a ter maior acesso aos mercados consumidores e do contingente populacional propriamente dito.
Mas o mais preocupante de tudo é a previsão de aumento dos custos de produção combinado com a alta volatilidade dos preços. O Brasil é colocado em destaque no relatório.
Especificamente, ele aponta para a possibilidade de, com os Estados Unidos, o país vir a responder por cerca de 50% do incremento das exportações mundiais de carnes até 2020.
Em 2010, o Brasil exportou o equivalente a aproximadamente 18,5% da soma das vendas externas mundiais de carnes.
Ao lado da Argentina, o país deve ter situação de destaque na produção e na exportação de soja e de outras oleaginosas.
Também se espera do Brasil papel relevante na produção e na exportação de outras commodities agrícolas. Até certo ponto, pode-se considerar que uma alta moderada nos preços das commodities, ao gerar aumento de rentabilidade, estimularia a produção.
Dessa forma, isso manteria certo equilíbrio de mercado, mesmo que de modo perverso, ao racionar o consumo para determinados contingentes populacionais mais pobres (o que, registre-se, sempre aconteceu).
Mas, se a alta dos preços for anulada pela alta nos custos de produção, o estímulo ao aumento da produção pode não ocorrer, tornando as altas explosivas, ainda mais se potencializadas por estoques internacionais historicamente muito baixos.
Nesse contexto, poderemos ter, além da terrível perspectiva de aumento da fome no mundo, graves instabilidades políticas nos países fortemente dependentes da importação de alimentos e relativamente mais pobres.
Parece evidente que esse aspecto ressalta a necessidade imperiosa de se analisar com grande cautela propostas que, embora justificáveis em muitos aspectos, impliquem elevação generalizada nos custos de produção.
Distinguir o desejável do efetivamente necessário parece ser o caminho.

JOSÉ VICENTE FERRAZ é engenheiro-agrônomo e diretor técnico da AgraFNP.


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