São Paulo, quinta-feira, 30 de setembro de 2010

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SILVIO MEIRA

A virtualização dos mercados


A empresa que não aceitar correr o risco de aprender fazendo provavelmente não terá lugar no futuro on-line

SAÍRAM OS números do varejo eletrônico brasileiro no período de janeiro a julho deste ano: crescimento de 41,2% sobre o mesmo período do ano passado, totalizando R$ 7,8 bilhões, valor superior ao de todos os shopping centers da Grande São Paulo, que têm faturamento estimado de R$ 7,2 bilhões.
Os dados são da Fecomercio (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo) e da consultoria e-bit. Mais que o valor absoluto e a comparação com São Paulo, o que impressiona é a taxa de crescimento, até porque ainda não há qualquer efeito do Plano Nacional de Banda Larga, que, se der certo, deverá conectar 75% das casas brasileiras à rede, triplicando o número atual. E também porque as compras móveis são um zero à esquerda no cenário brasileiro atual.
Se o varejo movimenta tanto dinheiro, como anda o dinheiro on- line? Talvez se devesse lembrar que dinheiro (ou moeda) já é um virtual, representação de poder de compra.
Dinheiro e instrumentos financeiros on-line são virtuais de segunda ou mais alta ordem, capazes de acelerar e simplificar transações e aumentar a eficiência do sistema de forma que não se conseguiria nas filas e nos caixas dos bancos.
Em 2009, os negócios bancários on-line cresceram 17,7% e passaram a representar 20% do total, perto de 9,33 bilhões de transações virtuais no ano.
Segundo o Banco Central, no fim do ano passado havia 48 milhões de contas bancárias realizando transações on-line, cerca de um terço de todas as contas. E o presidente do BC, Henrique Meirelles, acha que as agências bancárias físicas estão fadadas a desaparecer depois de 2020, dando lugar a um sistema totalmente virtualizado.
Esses são apenas dois dos maiores mercados que estão sendo virtualizados muito rapidamente no Brasil, como nos fazem ver suas taxas de crescimento. E não haverá mercado, nesta década, que não venha a passar por uma reestruturação que leve uma parte significativa de suas transações para a rede.
É como se os primeiros 30 anos (de 1980 a 2010, no Brasil) de uso intensivo das tecnologias de informação e comunicação tivessem sido focados nas empresas, e os próximos 30 (de 2010 a 2040) fossem de informatização das pessoas. Essa nova "onda", por sua vez, terá sérios impactos nas empresas, em múltiplas direções e sentidos.
O lado bom é que a virtualização e a consequente deslocalização e dessincronização possibilitadas pela web vão mudar, aumentar e criar muitos mercados (e acabar com outros tantos), estabelecer novos níveis de performance e comportamento de fornecedores e consumidores, redefinindo modos e intensidade de relacionamento... por aí vai.
O lado que se pode achar nem tão bom assim é que serão exigidas novas competências das empresas, na mesma velocidade do crescimento de mercados como varejo on-line, e que empresas que não se prepararem e não aceitarem correr o risco de aprender fazendo provavelmente não terão lugar no amplo futuro on-line que está começando a ser desenhado agora.
Nem tudo, mesmo se a empresa estiver preparada, são flores: se os mercados se virtualizam, o crime -organizado ou não- faz o mesmo.
Os bancos brasileiros investiram R$ 1,9 bilhão em segurança de informação em 2009 e, mesmo assim, as fraudes eletrônicas chegaram a R$ 900 milhões, número que analistas acham que deve ser multiplicado por pelo menos três para representar a realidade (mais detalhes no link http://bit.ly/9wFniF).
Uma pesquisa da McAfee, com mais de mil empresas de 17 países, mostrou que pelo menos 60% delas teve algum problema de segurança de informação nos últimos 12 meses, com perda média de US$ 2 milhões por empresa (mais detalhes em http://bit.ly/aBAfyS).
Resumo: nos próximos 30 anos, quase tudo o que puder ser virtualizado, em todos os mercados, será fraude e crime, inclusive. E, nesta década, uma parte significativa disso tudo vai começar a migrar para o espaço de mobilidade (nos smartphones) social (nas redes sociais), o que, por sua vez, deve revolucionar, de novo, o varejo e todo o resto.


SILVIO MEIRA, 55, fundador do www.portodigital.org e cientista-chefe do www.cesar.org.br , escreve mensalmente nesta coluna.

@srlm

AMANHÃ EM MERCADO:
Rodolfo Landim


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