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Petrobras evita deficit do setor público em setembro
Para analistas, manobra contábil com capitalização ajuda a reduzir credibilidade das metas de superavit
EDUARDO CUCOLO
DE BRASÍLIA
A operação para capitalizar a Petrobras, que rendeu
R$ 32 bilhões aos cofres do
Tesouro Nacional, vai ajudar
a salvar o resultado das contas públicas neste ano.
Como esse valor se refere a
uma manobra contábil, no
entanto, o efeito sobre a economia e a credibilidade do
governo na área fiscal será
zero, segundo analistas.
Dados do Banco Central
mostram que esses recursos
evitaram que o setor público
(União, Estados e municípios) registrasse deficit nas
suas contas em setembro.
O resultado, graças a esse
artifício, foi um superavit primário de R$ 27,8 bilhões no
mês passado, maior valor da
série iniciada em 2001.
No acumulado em 12 meses, o valor economizado pelo setor público saltou de 2%
para quase 3% do PIB e ficou
próximo da meta (3,3%), que
é fixada sempre na comparação com a soma dos bens e
serviços produzidos no país.
Se mesmo assim não conseguir alcançar esse patamar, o governo pode usar outro artifício e incluir os investimentos do PAC (Programa
de Aceleração do Crescimento) no superavit, o que já foi
feito no ano passado.
Na capitalização, o Tesouro repassou à estatal R$ 43 bilhões em títulos em troca de
ações. A Petrobras, por sua
vez, pagou R$ 75 bilhões ao
Tesouro pelo direito de exploração de 5 bilhões de barris de petróleo do pré-sal.
A diferença entre os dois
valores (R$ 32 bilhões) foi
contabilizada pelo Tesouro
como superavit primário.
Esse dinheiro, no entanto,
refere-se a recursos do próprio governo, que, após uma
triangulação com BNDES e
Petrobras, voltaram para o
caixa do Tesouro.
A operação foi criticada
por analistas por ser uma manobra em que o dinheiro saiu
do caixa do Tesouro e voltou
para a própria União.
Além disso, o superavit
não veio de uma redução nos
gastos do governo. Portanto,
embora tenha efeito sobre a
dívida, não contribui para reduzir pressões de demanda
sobre a economia, o que daria espaço ao Banco Central
para reduzir os juros.
O superavit recorde contribuiu para a redução no principal indicador do endividamento público (relação dívida/Produto Interno Bruto)
no mês passado, que recuou
de 41,4% para 41%.
No ano, no entanto, essa
relação só diminuiu porque o
crescimento do PIB foi maior
que o avanço da dívida.
"A euforia do crescimento
econômico acaba ocultando
esse problema fiscal. Parece
que está sob controle, mas,
com o tempo, isso gera aumento de juros e reduz o potencial de crescimento do
país", diz Felipe Salto, da
Tendências Consultoria.
Para ele, as manobras do
governo nos últimos dois
anos tiraram a credibilidade
das metas de superavit, e caberá ao próximo presidente
restabelecer essa confiança e
melhorar a qualidade dos
gastos públicos.
"Cumprir ou não essa meta já não quer dizer mais muita coisa", afirmou.
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