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Governo cria hidrelétrica sem eclusa
Enquanto Tucuruí ganha passagem de navegação 29 anos depois, Teles Pires vai a leilão sem prever obra de transporte
Custo de construir a eclusa separadamente
da usina será mais de 200% superior ao preço de uma obra conjunta
AGNALDO BRITO
ENVIADO ESPECIAL A ALTA FLORESTA (MT)
O presidente Lula inaugura hoje, no Pará, a eclusa de
Tucuruí, projeto que custou
R$ 1,6 bilhão, o dobro do valor original. A obra viabiliza a
navegação entre o norte do
Tocantins e o porto de Vila do
Conde, em Belém, num trajeto de 700 quilômetros.
O evento tentará dar a
inauguração o caráter de histórico e de um novo marco
para o transporte hidroviário
na Amazônia. Histórico será,
sobretudo depois de uma
obra de 29 anos. Novo marco? Ainda não.
A cerca de mil quilômetros
a oeste, também na região
amazônica, o governo inicia
um grande projeto hidrelétrico sem considerar a construção conjunta de uma eclusa
que permitiria um novo corredor para exportação de
grãos de Mato Grosso, transportando até 18 mil toneladas por comboio, o mesmo
que 600 carretas.
As 11 usinas hidrelétricas
do Complexo Teles Pires/Tapajós podem condenar ao
isolamento a maior região
produtora de grãos do país,
de onde saem 18 milhões de
toneladas de soja por safra.
A concessão das primeiras
hidrelétricas está marcada
para o dia 17 de dezembro,
quando os projetos Teles Pires e Sinop devem ir a leilão.
Segundo a Antaq (Agência
Nacional de Transportes Terrestres), uma eclusa construída ao mesmo tempo em
que uma hidrelétrica tem
custo estimado de 6% a 7%
da obra total. Feita de forma
isolada, o país terá de gastar
30% do valor original da barragem, só para a eclusa.
A concessão das usinas revela a falta de acordo que
ainda persiste entre o ministérios dos Transportes e de
Minas e Energia no planejar
conjunto dos rios. O Ministério dos Transportes não quis
falar sobre o assunto.
Alex Botelho, superintendente de navegação interior
da Antaq, diz que o jugo do
setor hidroviário ao setor elétrico começou a cair.
AUDIÊNCIA PÚBLICA
O assunto dominou as audiências públicas para discutir a usina, que ficará entre as
cidades de Paranaíta (MT) e
Jacareacanga (PA).
"O que mais surpreende é
a falta de entendimento entre
os ministérios dos Transportes e de Minas e Energia numa questão tão essencial para o agronegócio de Mato
Grosso", diz o médico Mario
Nishikawa, de Alta Floresta.
Em 2001, ele organizou
uma viagem em que mostrou
ser viável o uso do rio de Mato Grosso a Santarém (PA).
A única promessa da Empresa de Pesquisa Energética
(EPE) foi a de incluir estudo
preliminar para a eclusa. Mas
o Ibama (Instituto Brasileiro
do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis) nem sequer vai avaliar o projeto.
"Nosso foco é analisar a hidrelétrica. Não a eclusa", diz
Tomas Toledo, coordenador
do licenciamento de hidrelétrica do Ibama.
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