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ANÁLISE SAFRA
Produtores brasileiros de soja tiveram safra boa e rentabilidade alta em 2010
FERNANDO MURARO JR.
ESPECIAL PARA A FOLHA
O ano ainda não terminou,
mas, como a soja desta safra
praticamente acabou, já é
possível fazer nesta coluna
uma retrospectiva de 2010
(que teve a rara combinação
de safra boa e rentabilidade
alta) para, na próxima, falar
sobre as expectativas para o
próximo ano.
A safra 2009/10 da América do Sul foi muito bem regida sob a batuta do "El Niño",
que provocou chuvas constantes e bastante insolação
para gerar a maior colheita
da história do continente.
No Brasil, a produtividade
média foi de 48,8 sacas por
hectare -um recorde.
Somando-se Brasil e Argentina, a produção dos dois
países chegou a 123,5 milhões de toneladas, 33,7 milhões de toneladas (38%) a
mais que o resultado obtido
em 2008/9.
Por conta dessa safra gigantesca, os preços naturalmente derreteram de 2009
para 2010.
Em Cascavel (PR), por
exemplo, a média de preço
no mercado disponível caiu
de R$ 45,50 por saca no último trimestre do ano passado
para R$ 34,85 no primeiro trimestre deste ano.
Os preços permaneceram
lá embaixo durante todo o
primeiro semestre, em uma
tendência de queda que só
foi reforçada quando os Estados Unidos confirmaram que
cultivariam 31,4 milhões de
hectares -a maior área de
soja de sua história.
Após o término da colheita, o sentimento dos produtores brasileiros era o de que a
safra foi boa, mas a rentabilidade não.
Pelo lado da demanda, o
ritmo de consumo da China
continuou forte durante o
ano todo, mas, mesmo assim, não parecia capaz de
neutralizar a influência negativa da supersafra sul-americana.
A expectativa de melhora
dos preços ficava, portanto, a
cargo de uma eventual quebra de safra nos Estados Unidos no segundo semestre
-que acabou não acontecendo, já que os norte-americanos colheram produção recorde.
Ainda assim, as cotações dispararam. Isso aconteceu
porque a financeirização dos
mercados de commodities
(leia-se fundos de investimento em todas suas variadas formas) voltou a dar as
cartas.
Uma onda de calor no cinturão de produção de trigo da
Rússia, no final de junho e no
início de julho, gerou uma
centelha de fogo nos fundos,
que voltaram a enxergar nas
commodities em geral uma
grande opção para seus investimentos.
No final de junho, a posição dos fundos em soja, milho e trigo na Bolsa de Chicago equivalia a 96 milhões de
toneladas compradas; 60
dias depois, chegava a 175
milhões de toneladas, um recorde.
Os preços, claro, subiram
junto, e o ano, que caminhava para ser de rentabilidade
média, acabou ficando excelente, em especial para os
produtores que vendem o
grão parceladamente, sem
concentrar sua comercialização na boca da safra.
Tomando-se Cascavel novamente como exemplo, a
média de preço saltou dos
R$ 34,15 por saca do segundo
trimestre deste ano para
R$ 39,30 no terceiro, com um
avanço de 15%.
FERNANDO MURARO JR. é engenheiro-agrônomo e analista de mercado da
AgRural Commodities Agrícolas.
Internet: www.agrural.com.br
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