São Paulo, quinta-feira, 31 de março de 2011 |
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ANÁLISE PETRÓLEO Falta ao Brasil uma política consistente para os combustíveis ADRIANO PIRES ESPECIAL PARA A FOLHA O mercado de combustíveis no Brasil esteve conturbado nas últimas semanas. O etanol continua na sua trajetória de preços crescentes, e isso está obrigando à importação de 200 milhões de litros do mercado americano. É paradoxal ver o Brasil importar etanol de milho -que custa três vezes mais do que o nosso- dos EUA. Outro fato é o anúncio da Petrobras de que importará 1,5 milhão de litros de gasolina em abril -o Brasil sempre foi exportador. Isso mostra, mais uma vez, que o país não tem política de combustíveis. No primeiro choque do petróleo, o governo, ao não repassar ao diesel o aumento do barril, provocou a "dieselização" da frota -e lançou o Proálcool, com a obrigatoriedade de misturar etanol anidro à gasolina. Até então, o combustível mais consumido no Brasil era a gasolina, e as refinarias foram construídas para maximizar a produção desse combustível. A "dieselização" provocou sobra de gasolina, e o país passou a importar diesel. No segundo choque, em 1979, o governo apresenta a segunda fase do Proálcool, com o lançamento do álcool hidratado para substituir a gasolina -e continua o movimento de "dieselização". A partir de 1986, com a queda do preço do petróleo, o etanol hidratado perdeu mercado para a gasolina e quase desapareceu. Com a chegada ao mercado dos carros flex e o aumento do preço do petróleo, o álcool, agora chamado de etanol, ressurgiu como substituto da gasolina. Eis que surge a atual crise e o que se verifica é que a gasolina não é, e parece que nem será, a alternativa ao etanol. As razões para o que vem acontecendo remonta às medidas tomadas pelo governo Lula para combater a crise econômica no final de 2008. Naquela época, o governo incentivou a venda de automóveis através da isenção de PIS/Cofins e dando prazos maiores para a compra de carros novos. Isso provocou uma grande venda, na quase totalidade, de veículos flex. Enquanto isso, nem a produção de etanol nem a de gasolina acompanharam o crescimento da frota flex. Em 2010, o consumo de combustíveis cresceu 8,5% diante de um PIB de 7,5%. Também colaborou o fato de as usinas produzirem mais açúcar, com preços altos no mercado internacional nos últimos três anos. Mais um equívoco tem sido a política de preços da gasolina. O fato de a Petrobras não reajustar o preço da gasolina em função do mercado internacional provoca a inexistência de preços relativos. Ou seja, neste momento em que o preço do barril supera os US$ 100, a gasolina no Brasil é das mais baratas do mundo. Com isso, a sua maior competitividade frente ao etanol é artificial. O Brasil carece de uma política de combustíveis, caso contrário a ciclotimia vai continuar -e sempre quem paga a conta é o consumidor. Com a palavra, o governo. ADRIANO PIRES é diretor do CBIE (Centro Brasileiro de Infra Estrutura). Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Vaivém - Mauro Zafalon: Commodities já pressionam menos a inflação Índice | Comunicar Erros |
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